Não
amei e tive o coração partido. A história se repete e me pergunto até
quando vou ouvir o silêncio por algo que não fiz. As pessoas deviam se
comprometer com a verdade, com a pura e simples verdade. Não me envolvi,
mas sinto dor. Continuo o caminho como se não fosse importante, mas
esse disco riscado começa a fazer diferença no meu dia a dia. Tão
simples virar as costas, tão simples deixar o vazio
das perguntas nunca respondidas. Um dia saberei como é não se importar.
Um dia vou entender porque não faz sentido responder ou dar
satisfações. Desejo que esse dia não chegue. Desejo que mesmo com todas
as músicas repetidas eu saiba ainda valorizar e respeitar o próximo. Meu
erro, meu acerto. Não amei mas fui deixada com as minhas perguntas e
com essa dor que não é de amor. É uma dor que não sei explicar, ela vem
lá de trás. Vem de lugares que eu pensei ter esquecido, mas que ainda
doem. A dor não tem nome ou sobrenome. Essa dor que hoje transbordou
pelos meus olhos é de histórias que se repetem. Uma dor que talvez nem
eu entenda, mas que continua a acontecer e doer.
- Jana Escremin
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Mais um
Mais um. Um que passou tão rápido quanto a minha vontade. Um que repetiu a cena, o discurso, ou melhor: Repetiu a falta do discurso. Foi mais um que por não encontrar sentimento pensou que não existisse. Mais um confundindo prevenção com frieza ou liberdade. Lá se vai mais uma história sem explicação ou reviravoltas no final. Lá se foi mais um igual a todos os outros. Eles chegam, enchem a boca para falar e esquecem que eu guardo todos os detalhes, palavras e gestos. Eles somem deixando perguntas, dor e a certeza de que nada é como eu pensava. São muitos e eles surgem de todos os lados. São diferentes na conquista, mas iguais ao destruírem meu coração. Minha estante está cheia deles. Suas histórias parecidas, as feridas e as palavras não ditas. Na minha estante existe um pote vazio de justificativas. Não os nomeio, apenas cito como “mais um, mais um e mais um”. Evito me relacionar com antigas histórias. Eles se movimentam, fazem de tudo para serem lembrados e quando vou ver estou correndo em círculos. Vivo preenchendo uma estante que nem gostaria de ter. Todos eles dizem que sou amigável, não amável. Lá se foi mais um com seu jeito frio e calculista. Mais um que escolhi para continuar a saga do silêncio. Muitos personagens, poucas palavras. Essas palavras ficam comigo e talvez eu nunca mais consiga me desligar delas. Esse foi mais um que passou rápido, breve e fez ventania. Mais um sem educação sentimental. Mais um que tornou a calmaria em tempestade. Mais um que me deixou a ver navios. Mais um que se esqueceu de escrever uma carta de despedida. Lá se foi mais um para a estante dos desapegados.
- Jana Escremin
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Você que não está mais aqui
Você está nas conversas, nas novidades, na minha roda de amigos. Você
está lá, mas está diferente. Está intacto, mas sem enlouquecer. Você foi
esquecido no banco dos carentes. Um local seguro para mim e perfeito
para você. Você se sente confortável com o meu orgulho e todas as manias
idiotas para ser notada. É como se você fosse um estranho, e mais uma
vez não te reconheço. Não precisamos trocar palavras, angústias ou ir
adiante com as cobranças loucas que você dizia vir só do
meu lado. Você não causa mais bagunça. Meu amor se tornou algo que não
entendo. Quero sem querer. Quero sem pressa. Quero sem desejar. Quero
você mas estou nos braços de outro. Você continua nas perguntas, nas
respostas, na esperança de um futuro incerto e provavelmente
inexistente. Você que era futuro, se tornou passado. Podou o meu jardim,
cancelou minhas solicitações, rastreou a distância e fez dela
instrumento para acabar aos poucos com o meu sentimento. Você que ontem
era chuva, hoje é brisa leve. Todo o tormento de nada adiantou. Todas as
palavras jogadas, não fazem sentido. Todos os olhares e as inúmeras
tentativas de trazer você para perto de mim foram abandonadas em uma
sarjeta qualquer. Seu amor não é meu, e mesmo que o coração doa só de
imaginar outra pessoa aproveitando o que ninguém conseguiu tirar de
você, eu ainda sigo aceitando nossas moedas. Mendigo seu amor com uma
pitada de conformismo. Quando você vem já não importa mais, é só mais um
momento que levo comigo para acostumar aos poucos com os nossos limites
geográficos. Na verdade eu não sei mais o que importa. Falar de você se
tornou fácil, e isso é um sinal de que não tem mais o que fazer por
nós. Testei os meus limites, a minha humilhação e as minhas declarações.
Testei e fui testada, mas não por você. Você está nas conversas, mas
existe outra pessoa nos beijos. Você está no pensamento, mas existe
outra pessoa acariciando os meus dias. Você está em algum lugar sem
lembrar que existo, mas eu aceitei de bom grado seguir em frente
sorrindo ao lado de outra pessoa.
- Jana Escremin
- Jana Escremin
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Maré alta
A maré está alta, mas hoje me sinto baixa. Não
é como se o mundo fosse injusto, mas ele é obrigatoriamente aceitável.
Os últimos dias têm sido como viver em uma montanha russa. Rostos novos,
promessas novas, inseguranças novas. Vejo o que quero,
mas hesito em buscar. Existe um momento na nossa vida em que tudo muda.
Não quero perder o momento e deixo as chances escaparem como areia na
minha mão. Sei que estou lá e me esforço tanto para ser natural, mas
esqueço que sou o que sou. Tímida, enferrujada e cheia de diálogos
secretos. O meu natural se esconde e tem medo dessa maré alta. Só me
sinto baixa, pois quero tudo e quero agora. Travei na maior chance da
minha vida de mudar o rumo do meu coração. Sou silêncio demais quando
quero algo, e não acho que isso é possível no mundo das pessoas normais.
Não sei falar, pedir ou reivindicar os meus desejos com pressa. Espero a
atitude do outro lado me dizer o que fazer e sinto como se diminuísse a
cada vez que agi por medo de ser feliz. Minhas contradições ameaçam as
oportunidades, e eu espero para acontecer de novo e fazer a coisa certa.
O mundo girou, mas eu ainda sou a menina que tenta impressionar seus
desejos e esconde-se atrás de uma timidez desnecessária.
- Jana Escremin
- Jana Escremin
Segunda-feira
Segunda-feira tem cara de término. Toda segunda eu penso no que fiz, no que quero e no que realmente vale a pena. Toda segunda-feira parece recomeço, e muitas pessoas reiniciam suas vidas como se o início da semana fosse apagar as velhas memórias. Segunda-feira tem cara de namorada que não está satisfeita e decide colocar ponto final na relação. Engraçado como nunca estamos satisfeitos e colocamos a culpa no mundo pelas nossas expectativas e frustrações. Segunda-feira é típico de quem gosta de curtir uma melancolia saudável. O dia pode ter o sol mais lindo, o cheiro mais gostoso e ainda assim teremos pessoas reclamando de começar mais uma vez. Segunda-feira é o dia em que verifico minhas listas e compromissos. Pratico por diversas vezes o "reiniciar" da semana, querendo esquecer o que foi perdido. A segunda-feira sofre preconceito por nos colocar no nosso lugar. Ela acaba com a esperança do descanso e do conforto da nossa casa, e culpamos ela por fazermos parte dessa sociedade que foge dos dias da semana. Bendita seja a segunda-feira, pois sem ela eu nunca pensaria em reiniciar os meus planos. Sem ela talvez eu não soubesse o que é fracasso, e por incrível que pareça foi ela quem me trouxe o sucesso. Cada pensamento analisado na manhã de uma segunda-feira foi genialmente melhor do que as loucuras do final de semana. Segunda-feira tem cara de término porque sempre tentamos começar algo novo e acabamos por escolher algum dia para começar. Simples assim.
- Jana Escremin
Eu disse não
Como um soco no estômago eu acabei com as
supostas esperanças. Não havia nada de errado com ele, comigo, com nós.
Não existia nada de errado, era apenas eu gostando do meu tempo sozinha e
desse silêncio que o meu quarto guarda sem ninguém para
incomodar. Parece absurdo alguém que suplica por carinhos alheios
dispensar um amor de sábado a tarde. As vezes penso que só quero o que
não posso recusar, e isso afeta todo o curso da minha vida. Dessa vez eu
não pensei antes de falar e o meu erro é saber que não estou errando.
Minha cama não sabe separar lugares, é tudo meu e mesmo que ele insista
em fazer parte do meu dia, ainda desejo estar sozinha. Não tenho tempo
para mim e quando o dedico a alguém quero fazer algo especial, mas
ultimamente sou mais silêncio do que gritaria. Meu tempo não quer se
dividir, por isso ocupa todos os segundos, e quando vou ver dei
respostas desagradáveis para alguém disposto a dar o seu amor. Se me
falta tempo, sobra vontade de estar sozinha. Me perguntam o motivo para
tantas fugas, e eu só posso dizer que acredito na química, na dedicação,
no querer estar por perto. Com ele nada disso acontece. É frustrante,
eu sei. Mas é o que sinto e desta vez não vou trair os meus desejos.
Acertei em cheio o coração de alguém que só poderia me dar amor. Acertei
em cheio o meu coração que está procurando por passagens secretas. Hoje
sou dona de mim e gosto de ser assim. Talvez a química esteja em
encontrar alguém tão dono de si quanto eu sou hoje.
- Jana Escremin
- Jana Escremin
Assinar:
Postagens (Atom)