quarta-feira, 25 de março de 2015

Não sou qualquer garota

Nunca fui a garota do “não vou, não tenho roupa”. Nunca fui a garota da frescura de não beber muito, de não experimentar, de não me envolver. Fico pronta em menos de trinta minutos e não costumo atrasar para os compromissos, mesmo que aconteça algumas vezes. Sempre fui prática para as coisas simples. Sempre fui complicada para os sentimentos. Não sou uma dessas mulheres clichês, e me faz falta ser, mesmo que seja uma vez ou outra. Me preparo e faço de tudo para não perder osdetalhes. Muitas amigas pedem para não deixá-las esquecerem algo ou alguém, pois sabem que podem confiar na minha memória. Enquanto todas já estão caindo com as três bebidas do bar, eu me mantenho firme e querendo sempre mais. Às vezes eu gostaria de ser mais desligada. Sou plugada em coisas que não deveria e só esqueço o que não desperta o meu interesse. Nunca fui a garota que todo mundo espera. Tenho um ciúme exagerado, mas que se você observar tem até um pinguinho de graça. Vivo uma contradição e um talvez infinito, cheio de “não sei”. Prefiro que me levem no início, mas depois sou eu quem falo aonde, quando e porque. Fico submissa em algumas situações pelo simples fato de querer agradar a alguém. Mas já descobri que a maior furada da nossa vida é querer agradar aos outros. Quando estou sozinha, sei dedicar o tempo e sei compartilhar das emoções. Descubro no meio do processo que o meu único defeito é demonstrar demais, é não conseguir parar ou segurar as palavras e a empolgação. Não sei disfarçar. Já disse que vou mudar, já disse que me esforço dia após dia e vejo algumas mudanças, mas é complicado mudar quem nós somos. Sou sentimento em carne e osso, me machuco fácil e entrego minha vida como se fosse presente, achando que as pessoas querem vivê-las comigo. Isso explica as muitas frustrações, mas aceito. Nasci assim: uma contradição. Levo o meu sorriso e faço questão de ser quem sou, doa a quem doer. Mesmo que só doa em mim. Passo os dias viajando nos diálogos e nos arrependimentos para descobrir que ser quem sou é muito mais do que corajoso, é natural. Aceite quem quiser, mas estou olhando a vida mais simples do que desejo, isso talvez esteja no processo de aprender e esquecer. Meu único medo é esquecer alguém me fazia sorrir, no entanto preciso lembrar que trouxe mais sorrisos do que qualquer outra pessoa. Não nasci para despertar as lágrimas de ninguém e sinto orgulho do que me tornei.
- Jana Escremin

Quem sou depois do passado

Nós nunca sabemos quando vai começar. Chega um dia que a gente olha no espelho e tudo mudou. O cabelo está diferente, o sorriso está mais largo, não tem nenhuma roupa nova no armário, mas elas também mudaram. Não parece que foi ontem que a vida me passou uma rasteira. Não parece que foi ontem que eu perdi o chão.
Parece que foi ontem que eu ganhei o chão.
Fico buscando respostas, mas não são aquelas tristes, explicativas demais ou sem solução. Agora, eu busco algo que ainda não sei o que é, mas está longe do tapa que a vida me deu. Tentamos explicar. Os amigos, a família e até mesmo o passado nos pergunta: o que foi que mudou? Foi o espelho? Foi a cabeça? Foi a vontade? Sonho com viagens, com pessoas, sonho com o passado. Mas um passado diferente.
Um passado para não voltar.
Hoje eu acordei, e me perguntei: o que havia mudado? Nada. Tudo. Eu era uma daquelas mulheres que não sabem se vai ou se ficam. Só sonhava com casa, comida e roupa lavada. Agora eu sou outro tipo de mulher. A culpa não foi minha, mas se eu não mudasse, o mundo ia me estragar.
E eu ia estragar o mundo aceitando pouco dele.
Eu parei de ver o mundo tão superficial. Experimentei tanto a superficialidade de tudo, a ponto de não querê-la mais. Olhei, desejei e de repente não era mais eu. Aquele desejo não era mais meu. Ele era do passado, passado que não conhecia o novo.
Agora eu mudei.
Mulher faz essas coisas. Vai até o fim para provar se é verdade. Nunca sabe se vai ou se fica. Mas a gente nunca fica. Somos diferentes, pois não nascemos com um dispositivo que determina o que seremos do começo ao fim das nossas vidas. A vida nos modifica. Nascemos com uma característica única, que muda, transforma.
Ela aciona quando apanhamos da vida.
Nós não somos mais os mesmos e é difícil o mundo entender. É difícil para a gente nos entender. Se eu fosse arriscar, poderia dizer que a vida nos obriga. Obriga a ser feliz, custe o que custar. A vida só não tira a essência, porque é nela que encontramos o nosso melhor. Quando eu pensei que nada ia mudar, tudo mudou.
Eu não tomei a atitude. A atitude me tomou.
Quando ela chegou, eu senti o sangue, a ardência. Fez dos meus quilos, pó e renasceu. Renasceu em forma de coragem, sonhos, vontades, saudades, ideais. Já não sou mais a mesma. Sou minha, sou grande.
Eu nunca mais serei a mesma, mas também nunca mais vou deixar de ser quem eu preciso ser. O mundo me experimentou, agora eu quem vou experimentá-lo.
- Jana Escremin

Sobre o abandono

Nunca tive problemas com a solidão até descobrir o que é estar junto. Sempre fui única e não fazia nada por ninguém. Ruim na queda, sabe? Mas agora tudo mudou. Foi só bater o carro que sinto saudades de quem fez parte do meu caminho. Eu que nunca quis dividir, porque sabia como seria difícil o abandono, agora não sei lidar com as eventualidades do meu dia a dia.
Já se passaram alguns meses e apesar das mudanças que cortaram o meu coração, ainda me sinto deixada de lado. Se é normal?! Não sei. O abandono nos faz procurar o outro em qualquer ocasião, e essa sensação eu não desejo a ninguém. Me sinto impotente com palavras morrendo engasgadas no fundo do meu peito. Sou capaz de esquecer por horas essa saudade e mágoa que carrego, e são nesses milhares de segundos que a segurança de estar só parece completa, porém quando ela passa, um furacão volta. Mais do que deixar ir, é obrigar a ir. E esse é o pior tipo de abandono. É aquele que segue em frente, que se torna frio, rápido, e cheio de saudades.
Então, eu parei de lidar com um sentimento que não era capaz. Meus pesadelos têm um pouco daquele abandono e eu só queria sonhar, sem medo de dormir. Lembro daquela fuga que conseguiu desmoronar com os meus sonhos. Rápido, exato e silencioso. Não me arrependo de nada e não desejo ser infeliz. Jamais poderia querer ser assim depois de experimentar a felicidade. Mas se sentir abandonada é tão inútil quanto o papel que tive a algum tempo atrás. Percorri um caminho para ter certeza de que não aconteceria de novo e aqui estou eu. Reescrevendo sobre um abandono que já deixou de ser do lado de lá. Falando mais uma vez sobre o que acabou, sobre o que estragou e sem ninguém para ouvir.
Dos filmes que passo todos os dias na minha mente muitos são lembranças de algumas mentiras e amores, mas o que mais dói é assistir aquele em que sou abandonada com os meus medos e sentimentos. Esse é o papel que nunca esqueço de atuar, e por mais forte que eu seja para fugir dele, o mundo conspira para lembrar que a única coisa que me pertence é o silêncio, a solidão e as lembranças de uma época em que eu estava completamente feliz.
A felicidade agora é conceitual e depende das marcas que gritam agitadas no meu peito sem poder dizer muito.
- Jana Escremin

A história sem fim

Se tentássemos enumerar a quantidade de sentimentos que passam pela a nossa vida no decorrer dos anos, perderíamos as contas em menos de dez minutos. Ela seria uma grande e extensa lista para explicar como nos sentimos quando a esperança acaba, quando um amor começa ou, quando pela primeira vez, experimentamos aquela sensação de sermos donos do nosso caminho. O orgulho em conquistar nossos pequenos objetos ou pessoas é um sentimento único. Somos feitos de meros acasos, e eles nos colocam em dúvida sobre a independência que todos um dia almejam ter.
Ser dono do próprio nariz parece fácil. Mas nunca foi. Contas, sentimentos, perdas, negociações, sonhos, desilusões. Quantas coisas podem atrapalhar a sua independência? Há quem a tenha sem medo, mas há quem a deseje e por medo gruda na janela da vida, deixando que o vento as leve embora. Há também quem não sabe o seu significado, mas sente que vive cada segundo dessa sensação que está na grande lista de sentimentos.
Eu vivo a minha independência. Apesar de sentir falta de alguns ombros que embalaram os meus sábados a noite, eu sei continuar com coração na mão, sabendo que não vou morrer por qualquer um que tente tirar minha esperança. No entanto, sei que a falta de alguém para pessoas como eu é um preço alto a se pagar para viver neste mundo.
Já conheci quem se diz independente, mas depende de um amor qualquer para se sentir importante. Já conheci quem se diz independente, mas depende da família para tomar decisões. Nós sempre temos um pé na dependência e alguns fingem não vivê-la. Eu já fiz isso, hoje não mais.
Pago minhas contas, moro sozinha, comprei o meu carro e vou levando a vida como se ninguém pudesse me parar. Mas param. A independência é o custo mais alto de vida. Sentimental ou material. Ela nos cobra e por isso exigimos tanto de nós. Um passo na frente do outro, sem escolhas de fugir para o colo da mãe. Ninguém pode voltar atrás quando o caminho é ser livre. E esse é o meu caminho a muito tempo.
Na grande lista de sentimentos, que não seríamos capaz de contar quantos existem, tem um que nos cobra alto e carrega todos eles em uma única atitude. Não basta chegar, tem que atrair. Não basta perder, tem que sofrer. Não basta correr de volta para o aconchego da vida, tem que fazer das tripas um coração. Isso se chama "escolhas", e eu escolhi ser dona de mim.
Sou um gato na escala animal, enquanto alguns gostam de ser cachorros. Por isso, abrir mão das coisas fáceis pesa, mas nos modificam. Todos deveriam tentar. Ah, e isso não é uma reclamação! Sou madura, apesar de parecer uma adolescente apaixonada, e talvez esse seja o benefício ao optar pela a minha independência desde sempre: ninguém batalha por mim, apenas eu.
- Jana Escremin

As coisas pelas quais não torci


Eu não queria que tivesse dado errado, mas deu. Eu não queria que você se tornasse um desconhecido na timeline, mas se tornou. Eu não queria que os meus sonhos se tornassem pesadelos quando você está neles, mas agora são. Eu não queria que meu coração se machucasse ao pensar em você, mas machuca. Eu não queria pegar essa história rápida e intensa para fingir que não foi nada, mas foi. Eu não queria me sentir inútil por ser trocada, mas sou. Eu não queria me culpar por você ser um idiota, mas me culpo. Eu não queria que você me olhasse com dó, mas você sempre olha. Eu não queria ser esquecida, mas fui. Eu não queria esquecer que haviam sorrisos, mas esqueci. Eu não queria perder o brilho nos olhos, mas perdi. Eu não queria fugir dos meus planos, mas fugi. Eu não queria olhar para as ruas, carros, nomes ou pessoas que me lembram você, mas eu lembro. Eu não queria ter sido tão melodramática, mas fui. Eu não queria ter sido tão mole ao deixar você ir, mas fui. Eu não queria soltar esse amor, mas soltei. Eu não queria ter saudades, mas tenho. Eu não queria olhar seu nome e sentir dores, mas sinto. Eu não queria olhar os seus e nossos amigos, mas olho. Eu não queria chorar, mas choro. Eu não queria tocar outros rostos, corpos, bocas, mas toquei. Eu não queria gritar no silêncio, mas grito. Eu não queria ser descartável, mas fui. Eu não queria escrever esse texto, mas escrevo. Eu não queria perder você, mas perdi. Eu não queria fingir, mas finjo. Eu não queria estar sozinha, mas estou. Eu não queria olhar para trás, mas olho. Eu não queria tomar as minhas cervejas sem o seu copo ao lado, mas tomo. Eu não queria contar histórias para avulsos, mas conto. Eu não queria comemorar minhas conquistas sozinhas, mas comemoro. Eu não queria te chamar de passado, mas chamo. Eu não queria saber sobre você, mas sei. Eu não queria achar um porre qualquer cara que não seja você, mas eu acho. Eu não queria ter que deixar de amar, mas me esforço. Eu não queria me desculpar por ser tão idiota, mas me desculpo. Eu não queria ter cruzado no seu caminho, mas cruzei. Eu não queria ter que me maltratar por perdoar você, mas me maltrato. Eu não queria falar de você, mas falo. Eu não queria olhar no rosto das pessoas por quem brigamos, mas olho. Eu não queria aquele relacionamento, mas queria que você me quisesse de verdade e unicamente. Eu não queria imaginar que outra pessoa está sendo enganada, mas está. Eu não queria lembrar, mas lembro. Eu não queria nada disso, mas aguento tudo.
Eu só queria ser amada, mas não fui.
Eu só queria fazer você se sentir feliz por ser amado, não consegui.
- Jana Escremin

O lado mais difícil do amor



Depois de um certo tempo evitando o amor, você veio. Parecia um furacão no meio daquela paz que eu demorei para instalar aqui dentro. Sabe quando nós arrumamos a casa e alguém, sem cerimônias, bagunça tudo sem pretensão de voltar para ajeitar cada cômodo desfeito? Isso foi você na minha vida.

Quando você chegou eu havia dispensado um cara em menos de uma semana com um discurso decorado de que não queria aquilo para mim. Mas você tinha que aparecer. E esse mesmo homem ainda diz não entender o porque com ele eu não queria, mas com você eu quis tudo. Sabe aqueles planos que até mesmo a mulher mais bem resolvida do mundo acaba desejando secretamente? Eu quis com você.

Você pegou o meu velho discurso e mostrou algumas coisinhas que eu havia esquecido. Foi bom, foi gratificante. Mas antes mesmo de começar você já pulou fora, e eu continuei a viver. Como se não pudesse ter me envolvido pelo o seu sorriso, seu toque, seus planos. Você mal me conhecia e já queria fazer parte da minha vida. Só que de repente, não mais.

Você foi para mim muito mais do que aquela conversa em mesa de bar. Você foi um plano, foi um daqueles esquemas para eu voltar a acreditar. E eu acreditei com todas as minhas forças na revolução que você me trouxe. Mas não bastou.

Eu teimei em ser boa, porque eu sou boa, poxa! Quis ser a pessoa que talvez você nunca tivesse experimentado. Pessoa em sentimento, em idade, em carinho. Alguém com quem se queira compartilhar para sonhar com os clichês desses casais idiotas que vejo por aí. Mas você não estava fazendo planos, só estava fingindo para que eu ficasse cega. E eu fiquei.

Cega pela vontade de te entregar o que todos lá fora estão buscando. Cega porque você foi o primeiro a me tirar da segurança em que vivia. Eu queria ter sido o que você foi para mim: uma revolução sentimental para acreditar novamente no amor. Queria que você escrevesse uma música, um texto, um momento de fraqueza que ao menos mostrasse como o amor é lindo, mesmo sendo injusto.

O lado mais difícil de amar você era enxergar alguém que não se enxerga. A parte mais difícil era te amar e logo quando eu pensei estar conseguindo chegar ao fundo do seu coração, você me jogou do seu carro, da sua vida, da sua história. Você nem se importou em lembrar daquela época em que me olhava com os olhos brilhando. Você nem quis lembrar, só queria ir embora. Outro abraço te esperava e isso foi mais importante do que a idiota cheia de sentimentos.

Entendo o fardo pesado que sou, mas assim como é impossível mudar o seu caráter, é impossível mudar o meu amor. Um dia ele será de outro alguém e eu vou dar risada desta época, mas enquanto isso não acontece eu gostaria que você soubesse de algumas coisas. Queria que soubesse que amar você foi mais difícil do que perder você. Eu aprendi a passar em cima de ideais de relacionamento, aprendi a falar menos, aprendi a suportar a dor olhando para ela. Eu não me importava em esquecer os erros, eu queria você e mais ninguém.

Aprendi a dormir sem peso na consciência por te amar e mesmo assim não dispensar o carinha da festa. Aprendi que sou uma pessoa boa e talvez você não queira alguém assim. Aprendi que a tonelada de sentimento que carrego é minha, não sua. Amar você foi a tarefa mais difícil que o universo me entregou, mas consegui completá-la. Mesmo não me amando, agora sei que posso ser alguém melhor para quem vier. Eu sei amar na calmaria ou na tempestade.

Eu te admirei, incentivei, encorajei. Você só me expulsou da sua vida, sem segundas chances, sem dó nem piedade. Não foi só o término que me fez crescer, mas foi o depois dele. Todas aquelas situações, todas as vezes que me humilhei. Isso foi o lado mais difícil de amar você. O resto foram apenas testes para me sentir um pouco mais humana. Isso é você e o lado mais difícil em te amar e te perder.

- Jana Escremin

Enfrente seus medos



Todos passamos por um dia em que parece que Deus se esqueceu de nós. A perna fraqueja, o sono prevalece, a desmotivação vira melhor amiga. Ficamos com um peso nos ombros que já virou dor física e não conseguimos fazer nada contra isso. Na verdade, não queremos fazer nada. Essa responsabilidade é nossa, mas cansa carregá-la dias, horas, anos. A pergunta é: quando ela vai embora? Cadê o arco-íris depois dessa tempestade? Não encontramos e aí quando o mundo resolve rogar uma praga só para ver o quanto aguentamos, é que descobrimos que não temos escolha. É preciso aguentar.
Nessas horas é que vêm os amigos, o namorado, a vizinha, o cachorro, o bêbado na rua e qualquer um que olhe para a sua desmotivação como se ela fosse uma questão de matemática leve e fácil de resolver. Nunca é. Queremos um pouco de paz, um pouco de nós para nós. Queremos ter um momento de vitória que dure mais do que um dia.
Enaltecemos o que vem prejudicando nossas noites e relacionamentos. Não existem dúvidas, só problemas. Onde está aquela solução dos deuses para pequenos deslizes e acasos que não desejamos e acontecem? Eu só queria que este peso sumisse e que a vida voltasse ao seu curso natural. Mas ela parece andar a 10 quilômetros por hora e só posso aprender a ser menos rápida. Tarefa difícil. Passos lentos sempre foram um problema. Sou irmã da pressa e da ansiedade. Então como pedir calma quando o mundo começa a cair e nenhum setor da sua vida recompensa tantas desilusões de uma só vez? O jeito é parar de reclamar. Sou de vencer, sempre fui. Nesse jogo a minha peteca nunca caiu, e agora a única coisa de que preciso é um tempo. Tempo de pensar, colocar os pontos e vírgulas necessários para a avaliação mental que o mundo vive gritando que preciso.
Chegou a hora de olhar esses problemas de frente, excluir quase todos, resolver os possíveis e parar de achar que um complô foi armado para ver o quão forte posso ser. Mais uma vez estou provando das contradições da vida. Ser forte quando se quer chorar. Silenciar quando se quer falar. Continuar quando se quer parar. Não possuo vontades, só saudades e descobrir motivação nessa maré de azar é como agulha no palheiro. Por sorte sou teimosa e acredito em tempos melhores. Talvez seja essa balança que ainda me mantém em pé.
Realmente a vida não é um conto de fadas, e eu pensava poder viver um. Mas agora recolho os cacos por acreditar nessa história infantil e ilusória.
- Jana Escremin

O que sobrou do amor


Nós começamos a contar nos dedos os dias juntos, porque nunca se sabe o que pode acontecer amanhã. Começamos a virar os Sherlock Holmes da modernidade. Basta uma fuçadinha no celular para garantir a segurança de cada dia ou continuamos a enganar quem deita ao nosso lado com promessas de um futuro bom.
Perdemos o tato e a sensibilidade com o outro. Perdemos o conceito do amor. Amamos, mas é importante que alguém de fora nos deseje. Alguém sem precedentes ou compromisso. Para alguns é só casual, para outros é caso sério. Comemorar um dia após o outro em conjunto é o antigo aniversário de um ano. Devemos ostentar amor e esconder mentiras descobertas. Não se ama apenas amando, atualmente se ama perdoando.
Se um dia acordamos mal, adeus. Não precisamos de ninguém. O amor virou a muleta para fingir que somos capazes de gostar de alguém. Ele é descartável como o nosso lixo, mas não é preciso recolher o de ninguém lá fora, nem o nosso. Ficamos presos ao discurso de amor e liberdade que não caminham mais juntos, porém todos pensam que caminham, até mesmo eu.
Agora somos só dois reclamões e desconfiados da vida. Não queremos ser passados para trás, mas passamos o primeiro que declarar o seu amor por nós. O amor virou moeda barata que é aceita em qualquer esquina. O amor não é mais o amor propriamente dito. E não estou falando de "felizes para sempre". O amor não é sinônimo de respeito. Lamento por isso, sofro por isso. Ele é uma troca de roupa que compramos, usamos e de repente não está na moda. Ele é banal, e por isso não é a-m-o-r-.
É preciso dar valor no dia a dia para reconhecer que amanhã talvez não exista mais “nós” e sim “eu” e “você”. Somos responsáveis pelos nossos sentimentos como antigamente, mas agora ninguém os respeita para relevá-los antes do adeus. A proporção do amor é a mesma da mentira, e isso não é só uma palavra de pessoa desiludida. É uma palavra de quem o viveu nos dias atuais. No palco era amada, nos bastidores enganada.
O amor que você enxerga hoje é essa reclamação cotidiana, essa rotina sem graça e o olhar ambicioso na grama do vizinho. Para alguns ele é a calmaria que merecemos, mas para a maioria é só um fardo para distinguir quem tem sentimentos ou não.
Não vou dizer para fugir dele, mas também não vou dizer para acreditar nele. Estamos fadados ao erro, seja qual for o caminho que você escolher. Saber amar atualmente é impossível, mas há que se arrisque.
- Jana Escremin

A Manoela é você

Depois de uma desilusão amorosa, Manoela fechou para balanço. Do signo de peixes e extremamente (digamos que até descontroladamente) sentimental, ela vivia um dia de cada vez. Quando as chances de um amor apareciam, Manoela fugia. Ela já sabia dos perigos. Passou anos escrevendo crônicas sobre alguém que marcou a sua vida e nunca mais voltou. Na verdade era a segunda vez que Manoela sentia o chão sumir abaixo dos seus pés. Mas na segunda vez ela sabia que tinha sido de verdade e pela primeira vez soube os prós e contras de amar alguém em pleno século XXI.
Lutando para não cair novamente, ela afasta os possíveis namoradinhos e se diverte com sinceridade e confiança. Mas como tudo nessa vida, o prazo de validade estourou e um homem cruzou o seu caminho. Alto, bonito, charmoso. Nem magro e nem gordo. Branco como a neve e cheio de pintinhas bem posicionadas pelo corpo. Olhos apertados e uma dancinha inesquecível aos olhos dela. No auge de seus trinta e poucos anos, ele vai enfeitiçar e derrubar Manoela, sem chance de aviso prévio.
O caso de amor começou errado. Uma diferença de idade e de gostos musicais. Quem diria que ali nasceria uma união? Algo funcionava e Manoela se apegava nessas pequenas coisas. Eles gostavam de conversar, acariciar, sentir o outro. Gostam de cerveja e festas. Curtir um show nunca será a mesma coisa, pois agora ela sabe o que é ter companhia em dias de festa. Ela se esqueceu do gosto e da alegria que é estar com alguém. Mas Manoela só enxergava a casca.
A vida não é justa com pessoas como ela. Manoela se acha esperta, mas na hora “H” faz tudo ao contrário. Ela vai aprender que o amor talvez não seja para garotas como ela e que a sua alegria possa ser mais bonita quando é solitária. Desta vez Manoela vai mudar. Mudar jeitos, palavras, loucura. A doçura vai embora, a insegurança toma conta. Os dias de amor, admiração e esperança vão acabar.
Dizem que quando a desconfiança é instalada uma única vez, nunca mais ela vai embora. Manoela tem muito a ver com essa atitude. Ela aprende do pior jeito como sobreviver a um laço cortado e milhares de situações que fazem o seu coração sangrar de tanto aguentar. Aguenta fatos, olhares, ignoradas que não lhe cabem no peito. Ela aguenta histórias que não quer ver ou ouvir. Manoela não sabe responder o porquê de tanta humilhação, ela só quer parar com aquilo tudo.
Desta vez ela vai entender o porque fechou para balanço anos atrás.
- Jana Escremin

No canto dos lábios

Escapou de ladinho. Parecia um fugitivo na busca de um sonho. Maldito sorriso que não cabe dentro da minha boca pequena e miúda. As vezes acontece do mundo virar de ponta cabeça, e ele me revirou. Quantas náuseas contabilizei só por causa de um amor acabado? E o azar que vesti devastou a minha vida. O trânsito , o tempo, as músicas, o trabalho e o amor não combinavam mais comigo. No entanto, sem perceber, tudo foi se encaixando. A vida me deu um susto para aprender, de novo, a ser mulher e não uma menina. Quando me dei conta a cabeça estava em pé, o nariz empinado, o sorriso escapando por todos os lados e tudo o que não combinava entrou em perfeito alinhamento. Disquei o número de uma amiga e as palavras saíram como que em desespero, pois eu precisava falar. Voltei a falar, sorrir, cantar e contar as minhas histórias nos mínimos detalhes, como sempre foi de costume para pessoas como eu. Que delícia era sentir o desejo mais uma vez arder no peito. Sem espaço para arrependimentos, o mundo havia me transformado. Ou eu teria transformado o mundo? Nunca saberei. Minhas dúvidas já eram desnecessárias pois não havia nada para descobrir. O lance é experimentar. Não me importa o passado, a dor, o acaso. Agradeço pela liberdade imposta pela primeira vez e ela não dói. Deus realmente escreve por linhas tortas, e tudo começou a fazer sentido. O adeus, as lágrimas, a reclusão, o levantar, o sorrir. Agora dou valor nesses detalhes. Uma amiga falou que a minha voz estava diferente no telefone e na hora constatou que eu sofria de felicidade sem motivo, sem nome ou rosto. Achei bonito ouvir aquilo e acordei todos os dias imaginando que tamanha felicidade deveria ter um motivo, mas não o encontrava. Estava feliz, ponto final. Isso é possível? Pela primeira vez parei de buscar motivos ou nomes para os meus momentos, agora experimento a sensação de ganhar o mundo só por sorrir para ele sem motivo aparente. apenas sou feliz e não reclamo do caminho para chegar até aqui, não mais.

- Jana Escremin

Para os dias cinzas

O dia não pode ser mais cinza só porque esqueci de te dar oi.
Não é justo ele ser tachado de ruim. Primeiro porque é sexta-feira. Segundo porque ruim mesmo é não ter com quem sorrir. As pessoas se acostumaram com tantas reclamações. Quando eu chego em uma roda o blá blá blá é sempre o mesmo. O namorado que não traz confiança. O trabalho que não dá retorno. As contas que começam a se multiplicar na mesa. Os amigos que já não atendem às nossas expectativas. A família que não nos mima mais. Pesou só de ler não é? Eu tenho os meus problemas. Respiro, inspiro e penso: "hoje não". Talvez depois dos desastres que a vida me deu, eu tenha aprendido a ser uma chata do positivismo. Sim, eu ainda tenho tempo para viver, para me alegrar, para sonhar. Não vou abaixar a minha cabeça se o mundo andou dando pancadas nos meus ideais. Isso é coisa de preguiçoso. Eu tô aqui é para viver.
O dia não pode ser mais cinza só porque alguém decidiu ir embora.
Que vá quem não quer ficar. Agora eu sou do time dos simplistas. Sim é sim, não é não. E o silêncio, agora, é a minha melhor arma. Chega de esquentar a cabeça com frustrações, elas estão por aí, elas vão me atingir, mas elas vão passar. Traz calma para a sua alma vendo um filme, lendo um livro, bebendo com amigos. Massageia o seu ego, ele é fundamental para as coisas darem certo. A vida nunca foi perfeita, por isso a gente já chega neste mundo chorando. Ela é fadada aos desafios e crescer é o pior deles. Acabam-se as molezas e nós que nunca apanhamos, temos que enxugar o pranto pois lá vem mais uma onda. Faz o seguinte: mergulha, muda de mar, pesque alguns peixes. Devolva a sua vida para quem é dono dela. Você não pode se entregar na primeira tristeza. Conheça alguém grande, alguém que sorri, alguém que acorda dando bom dia para o sol e se pergunta se é capaz de sentir isso em uma segunda-feira de manhã. Todos somos, alguns só facilitam o caminho. Facilite o seu caminho. Pessoas grandes sofrem tanto quanto você, a diferença é que elas preferem sentar, pensar, resolver e seguir. Resolva. Nem tudo é um drama, nem tudo é azar. Se estiver doendo muito, saiba que nós sempre podemos contar com alguém. É óbvio que ser feliz ou triste em Paris é diferente, mas faça algo com o que você tem e descubra como a mágica acontece. Ninguém pode suportar uma dor sozinho. Ninguém pode descobrir o mundo sem ajuda. Ajude-se, propague-se. Seja alguém de sorrisos. Esqueça o blá blá blá. Existe um mundo e ele é seu. Me desculpa pelo positivismo, é que sempre gostei de ver o lado bom nas coisas ruins. Hoje é um dia ruim, e veja só: escrevi para saber que no fundo isso não pode me abalar, pois o dia não pode ser mais cinza do que ele já é. Até porque é você quem determina a sua cor.
- Jana Escremin

Antes e agora

Antes eu perdia meu tempo, agora o tempo me perde. Antes nenhuma alegria era capaz de arrancar a falta que sentia, agora a falta não encontra lugar para se alojar. Antes eu fui capaz das piores humilhações, agora eu sou capaz das melhores interpretações. Antes eu suplicava, agora eu agradeço. Antes eu pensava ser culpada, agora sei que sou honesta. Ser de verdade é a dor mais dilacerante que pude sentir, mas antes eu chorava, agora me orgulho. Sorriso no rosto e boca cheia desentimento bom. Antes eu só sentia o frio de estar no chão, agora eu já nem sinto mais ele. Antes eu procurava motivos para mostrar o quanto poderia ter sido, agora eu vejo que fui muito mais do que mereciam. Antes eu fui triste, agora eu sou feliz. Antes eu mendigava um sentimento que nunca foi meu, agora eu tenho dó de quem pensa tê-lo. Antes eu me incomodava com a solidão, agora sei que estava sozinha fazia muito tempo. Não encontrei nenhuma resposta pois antes fiquei cega pelos encantos que a mentira traz, só que agora não existe questionário. Antes eu vivia com a dúvida pendurada no pescoço, agora eu vivo com a certeza de que melhor do que isso, só isso vindo em dobro. Antes eu não entendia porque não fui perfeita, agora eu gosto das cicatrizes que me tornam humana. Antes eu olhava para trás com o coração na mão, agora eu nem olho para trás. Antes eu jurava que tudo era um pesadelo, agora eu sei que sou dona dos meus sonhos. Antes você me julgava, agora você é julgado. Não por mim, não pelos outros, não por ninguém. Antes eu fui capaz de esquecer de quem eu sou, agora eu faço questão de te lembrar. Sou tudo o que mereço, sou o sorriso que perdeu. Sou o escândalo de quem sente na pele o que é se entregar. Antes eu vivia arrependida, agora eu vivo de aprendizados.

- Jana Escremin

O sorriso dela

Como pode uma garota que sorri tanto, perder o seu encanto? Não é possível que alguém consiga tirar aquele brilho nos olhos quando ela passa a mão pelo o rosto do outro. Ela não duvidou do que estava ali na sua frente. Eram palavras, gestos, declarações, olhares. Como isso poderia ser mentira? Ela merecia apenas um carinho e uma cerveja, tão simples. O sorriso dela estica enquanto desce as escadas. Faz a curva mais linda que já observei. O encanto dela está na simpatia. Essa garota se perde quando não sorri, e eu que sempre gostei da sua risada, do seu jeito, da sua expressão maluca quando observa tudo ao seu redor, fui o culpado por tirar o som da sua gargalhada. Alguém me explica aonde ela escondeu aquele brilho? Vi ela passar na rua hoje e faltava alguma coisa. Faltava sorrir para mim. Gargalhar por tudo e por todos. Eu era mestre em fazê-la sorrir. Roubei o seu encanto e esqueci de devolver. Lembro de noites e dias que ela vinha sorrindo e eu entediado, mantinha a cara séria e o pensamento em qualquer outro canto. Não era culpa dela, eu só não sabia valorizar o que vinha de graça. Ela sorria tanto, mas quando estava brava era um teatro sem fim. Até neste momento ela sorria, e passava o dia forçando a testa para demonstrar seriedade, mas já era tarde demais. Um dia a peguei me encarando no meio da noite, sorriu e não disse nada. Bastou um abraço e pronto, o mundo dela estava perfeito. No entanto nunca esquecerei quando a olhei séria, encarando o teto e pensando sobre nós. Eu sabia que era sobre nós pois eu havia dispensado os carinhos dela. Até hoje não sei o que ela pensou, mas sei que sentia falta do seu sorriso. Ultimamente tenho medo de pensar no sorriso dela e andei sonhando com as suas gargalhadas. É impossível aguentar aquela garota cheia de vida e também cheia de atitude sem questionar quem ela é. Brigava, gritava, fuçava e me deixava louco. Tenho saudade da loucura dela. O tempo passou, o sorriso voltou e eu nunca mais soube o que é ouvir aquele som na manhã de domingo. Como eu pude perder uma garota que sorri tanto? Nunca saberei.

- Jana Escremin