quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Eu quero ser reconhecida



Algumas pessoas desejam viver. Outras querem ter um cabelo mais curto, longo, loiro, moreno, liso ou enrolado. Vejo notícias o tempo inteiro sobre gastos milionários para se tornar alguém que já existe. Mas talvez não seja só o visual, pode ser que o talento também nos impulsione. Quantas vezes quis ser igual as escritoras que acompanho? Aposto que você conhece alguém que batalha para ser referência na área que atua. Isso são os nossos sonhos para ser alguém que mereça reconhecimento. Um nome inesquecível, uma história que ultrapasse a linha do tempo. Não importa.

A verdade é uma só: sempre queremos ser alguém. Bons ou maus exemplos, whatever. Porém, essa não é uma afirmação generalizada. É apenas a minha simples visão, e talvez algumas pessoas compartilhem dela, ou não. Tanto faz.

Mas e eu? Como quero ser lembrada? Acho que sempre quis ser reconhecida por dentro. A minha autoestima não está na cor dos meus olhos, no meu peso ou nas roupas que visto. Está na minha batalha. Quero ser reconhecida fora do tempo, do corpo, da visão superficial. Quero ser lembrada pela alma, pelo o sorriso, pelas histórias construídas lado a lado.

É óbvio que faço alguns esforços para manter o padrão que todos seguem. Mas ser reconhecida pelo o que faço, isso me deixa radiante. Sinto que os meus esforços não podem ser em vão. Me coloco a prova todos os dias. Digo que não vou mais repetir os erros, mas lá estou eu. Digo que terei foco, e crio pilhas de planos. Digo que serei feliz, e cumpro, mesmo que demore.

Talvez eu só queira ser reconhecida como um Cazuza, um Renato Russo, um Kurt Cobain ou um Michael Jackson. A diferença é que não quero a mídia. Eu desejo essa lembrança de se eternizar por algo que fez, que mudou, que transformou na vida do outro. Desejo ser reconhecida por ser importante ao agregar um sorriso, uma saudade, um amor, uma amizade, um porto seguro. Se eu não puder ultrapassar o tempo para algumas pessoas, então deixo as mesmas irem embora. É melhor assim.

Desde pequena fui reconhecida como a mais fraca das três irmãs. Quando cresci virei a romântica e "bonequinha" para os amigos. Agora até sou um pouco grossa, e muitos me chamam de batalhadora, quem diria?! Quantas divergências em um corpo só!

Me importa a maneira como você me olha, porque eu quero ser especial. Não tenho a pretensão de ser eterna, mas anseio por ser uma lembrança que traga sorrisos, esperança e amor. Esse sentimento me persegue. Preciso ser reconhecida com adjetivos que vem da alma, não do corpo.

Talvez nenhum desses textos vá parar na prateleira das maiores livrarias do mundo ou nos perfis e compartilhamentos da vida online, mas se eu atingir três pessoas com as palavras, me sinto a Angelina Jolie dos livros, entende? Eu quero ser lembrada por ser intensa a ponto de cravar na tua pele um sentimento que você talvez não conheça, talvez fuja, talvez abrace e não queira nunca mais soltar.

Muitas coisas passam e poucas ficam, mas do fundo do meu coração desejo que todos saibam que dei o meu melhor para ser alguém e aceito que nem sempre sou boa com o meu objetivo, mas me deixem com a certeza de que sou reconhecida pelo o coração e sorriso que carrego. Esse seria o único pedido a todas as pessoas que circularam pelo o meu caminho. Apenas ser alguém atemporal.

- Jana Escremin

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Seja alguém. Não, calma.


Seja meiga. Seja educada. Seja autêntica. Seja feliz. Seja assim. Seja assado. Seja inesquecível. Sorria. Seja diferente. Seja gostosa. Seja atraente. Seja boa.

Calma, por favor!

E se eu for eu? Se eu gostar de sentir muito? E se eu for um pedaço de gente que ainda não se encaixou nas modernidades do século XXI? Qual o pecado em ser quem eu sou? Sinto, respiro, digo, escrevo. Não preciso de orgulho para ficar fazendo joguinhos. Eu jogo muito bem, mas tenho preguiça de quem manda eu ser quem não tenho a vocação de ser. Se eu quero, eu vou, simples.

Sim, vou usar muitos "eu" nesse discurso. Sou assim!

Quis ter filhos e um casamento igual aos que vejo por aí. Idealizei tantos sonhos que hoje só quero a paz de estar sozinha. Me sinto bem aliviando vontades sem compromissos. O desapego é uma dádiva que poucos conseguem dominar. Eu não domino nada, mas finjo tão bem que se tornou natural.

Não preciso ser essa pessoa que todos dizem ser a ideal. Se eu quisesse ser ideal para alguém teria aceitado os chifres, as falhas, as desculpas. Quero ser ideal para mim. Ponto.

Conheci uma pessoa uns dias atrás. Em dois minutos de conversa ele já disse que eu era fofa. Lancei a mão e disse: "Pare". Não sou fofa, porra! Mas poderia ser, se quisesse, claro. Eu sou assim e talvez seja o meu maior problema. Não preciso fingir ser fofa, as vezes me escapa, assim como a grosseria. As vezes sou muito grossa, e as pessoas acham errado. Quer saber? Foda-se.

Como explicar quem eu sou se não pareço com o que o mundo enxerga? Tenho uns defeitinhos aqui, outros acolá. Mas cansei desse papo de "seja alguma coisa para ter o que todo mundo tem". Fala sério?! Não quero ter o que todo mundo tem. Quero ter o que é meu, por merecimento e felicidade. Amei, sorri, chorei, sofri, levantei e olha só! Aquele papo de que a gente tem que se bastar, bastou.

Ser alguém perfeito para o outro é tão errado. A primeira vez que quis me moldar, percebi que não nasci para isso. Como perdoar quem não tem vergonha na cara? Como sorrir quando a vontade é de chorar? Sinto muito, mas eu sou dessas que sente, fala, grita e você não pode impedir.

Gostou? Ótimo. Não gostou? Ótimo, também.

Eu já sei o que procurar. A ideia de filhos, casamento, amor e cabana nasceu para alguns, talvez eu sonhei com algo que não me pertence e hoje aceito isso.

Ontem interfonaram no meu apartamento para saber o meu nome. Não sei quem foi, mas notei a intenção. A vida tem mostrado que ser mais para dentro do que para fora é destaque. Agora sei que ser alguém sem regras é o melhor remédio para ser perfeito para si mesmo e ninguém mais. Chega de tanto "seja".

- Jana Escremin

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Valorizando o mundo







Um por do sol, uma pessoa, um lugar, uma conquista, um trabalho, uma vida. Essas coisas só fazem a diferença para nós quando admiramos cada história que nos trouxe. Isso se chama valorizar grandes e pequenas coisas. Mas aonde está este valor na sua vida?
De onde ele vem? Valor ao que temos, ao que somos, ao que pretendemos ser. Valor nas pessoas e nas coisas. De onde vem essa admiração ao ponto de valorizar? E o valor calculado errado? Ele existe também. O que fazer quando se entrega tanto, e em troca nada retribui? O valor é um professor da vida.

É assim no seu trabalho, nos seus relacionamentos amorosos, nas suas amizades ou na sua família. Nos entregamos e nos valorizamos diversas vezes na vida. Mas para quem? Para o quê? Se valor é uma moeda de tamanha importância, por que nos dividimos entre desistentes e abandonados? 

Onde está o seu valor? Talvez você o tenha esquecido quando ficou cega de amor. Talvez ele parou naquele trabalho que tirou o seu sono. Talvez ele apareça em uma tarde de domingo para quem já está longe. Talvez o valor não exista. Pode acontecer, sabia?

Todos nós devemos nos valorizar, mas qual é o ponto certo? Qual é a medida exata para não exceder o valor do outro? Por que ninguém fala do valor de alguém na nossa vida? Por que sabemos da importância de valorizar alguém e mesmo assim fingimos esquecer? 

Neste final de semana, sem pensar duas vezes, enviei para uma amiga o quanto ela era importante. Não existia um motivo, mas ela precisava saber disso. Eu valorizo muito cada pessoa que entra no meu caminho. Sempre dou valor nas coisas do meu jeito “materialista saudável” de ser. 

Você já valorizou alguém hoje? E ontem? E amanhã? Saiba que nem sempre o seu valor vai importar. Já deixei tanta gente valorizada por aí, mas eles não ligaram. Existem pessoas que não querem ou não sabem dar valor ao valor que temos para entregar. É a vida, infelizmente.

Mas foi dessa maneira que aprendi o que vale a pena ser valorizado. O que seria da minha existência se saísse por aí valorizando e sendo valorizada sem a desilusão do talvez? As vezes é preciso se questionar sobre a importância da sua vida no caminho do outro. 

Um mundo inteiro para se explorar e você aprendendo, dia após dia, como ser e fazer alguém valorizado.Isso é regra, a exceção é o retorno do seu valor.

Não se irrite se não retribuírem a sua atenção, o seu carinho, a sua importância ou até mesmo a sua paixão. Aprenda que valor foi feito para todos nós, mas que alguns devolvem o seu, sem explicação, medo ou maldade. Não se pergunte o motivo disso, pegue-o, limpe-o e continue entregando-o. 

Você não tem culpa do pouco que alguns aceitam receber. Dê muito, dê o maior valor que puder. A consequência disso não é sua. Pois a sua única responsabilidade é com o que você recebe, todos nós entregamos e devolvemos valores. Afinal, isso é ser alguém que cresce com a vida. Vá trabalhar, vá namorar, vá passear. Valorize tudo e todos, retribua com educação.

É importante ressaltar: se valorize e não tenha medo de valorizar os outros, o segredo está na troca. Aprenda a trocar, receber, doar. Aprenda a ser alguém que entende as imperfeições do outro. Se não rolou uma valorização mútua, tudo bem. A vida sempre seguiu em frente, não estacione.

Nós estamos aqui para sermos admirados pelo o que entregamos. Entregar é o ensinamento. Receber é o aprendizado. As pessoas inesquecíveis são reconhecidas pelo o que entregam, e as coadjuvantes são encaradas como um vento leve. E sobre o vento, nós já sabemos: só passa, não fica. Continue valorizando ou eu ficarei repetindo essa palavra, até que ela vire uma atitude na sua vida.

Simples assim.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Saudade, importância e amor



Quando passa a gente sente o vazio. Ele é diferente. Preenchemos com maturidade cada pedacinho que fugiu de nós. O objetivo agora é preencher. Crescemos em um piscar de olhos, e não são os fios brancos ou o peso da pele que começa a aparecer, somos nós crescendo de dentro para fora. Virando gente grande em um mundo tão difícil de entender.

A fala não coincide com o ato. O beijo não cola mais. Dividimos a vida com o mundo. A eterna mutação de quem não pretendia mudar, no entanto a escolha era uma só: “ou dá ou desce”, é assim que dizem os mais loucos. Quanta força se pode tirar de uma fraqueza?

Cai ali, levanta aqui. Somos o mundo e só percebemos isso quando o olho já cansou de esperar. Saudade é sentimento eterno, e só o tem que admira o que vivenciou. Importância é sentimento nobre, e só o tem quem já perdeu muito por aí. Amor é sentimento único, e só o tem quem espera por ele.

Passou, eu sei. Cresci, eu sei. Nunca mais seremos os mesmos, mas será impossível esquecer. Essa é a mágica da vida. Se esquecer do que passou é permitir que tudo aconteça novamente. Eu não esqueço. Levo comigo todas as vitórias, perdas, palavras e atitudes. Sou colecionadora de história, por isso valorizo todas. Levo comigo porque ninguém pode sustentar tamanha pressão.

Eu sou difícil, é óbvio. Mas quem não é? Se houver alguém neste mundo que seja tão fácil a ponto de ignorar as dores do mundo, é porque o espaço vazio que o coração sempre vaga, uma vez ou outra, não é bom lugar para você ficar. 

Frieza não combina com saudade, importância ou amor. Ela tem gosto amargo e cara de anjo. Porém, todos precisam passar pela frieza do outro. Ela dói e uma vez ou outra causa repulsa. Mas ela é essencial. O seu mundo depois dela se torna colorido, se torna importante. O valor das coisas está quando perdemos elas.  Eu sei valorizar esse vazio que dá quando tudo passa.

A maturidade de um sentimento é saber a hora de deixá-lo ir. Eu nunca soube a hora de nada, mas agora sei que ela chegou. "Corra Lola, corra", o amor não pode encontrar um peito bagunçado. Esse vazio é lindo, essa saudade é saudável, essa importância é humana. 

E esse amor é bonito, assim como você.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Convivendo com a força e a fraqueza




Um dia desses tentei explicar para a minha amiga a necessidade que tenho de falar. Ela começou a me olhar torto, fez perguntas que até agora não sei responder. Ela entendeu que falar era sinônimo de amar. Eu só entendi que falar era falar. Nunca soube explicar essas loucuras que faço. De repente escrevo, de repente grito, de repente silencio. Vivo em uma montanha russa sem parada para respirar. 

Ontem voltei do trabalho falando sozinha. Parei no semáforo e o cara do carro ao lado deu risada quando olhei para ele. Tenho agido assim por muitos dias. Acredito que essa seja a melhor técnica de quem tem muito que dizer, mas não pode. Falo pelos cotovelos e até o meu carro cansou dos diálogos. Eu também cansei, mas faço para não sobrecarregar.

Ontem me senti uma criança. Maldita hora que ouvi aquela música. Maldita hora em que pensei em tatuar a letra dela no meu corpo. 

A amiga, o carro, os diálogos, a música e a tatuagem não me serviram para nada. Continuei seguindo, porque não sou boa com ré no trânsito, imagina na vida! Impossível. Ando para frente, mas sempre espio o passado.

Aprendi a ser inteira e ninguém entende quando deixo as coisas caírem pelo chão. 

Uma amiga disse que me vê tão diferente do jeito que eu falo. Que não sou fraca, que vou realizar muita coisa ainda. Ela disse que vou pegar essa caixa de sonho e romantismo e vou ter a história mais bonita que alguém já viveu. Vai sobrar inveja no mundo, e amor no meu coração.

Sei que muitos pensam que sou boba. Desde que me entendo por gente, a minha irmã diz que no meu lugar faria diferente e que todos já teriam virado areia na mão dela. A outra irmã diz que eu devo ponderar a situação com mais firmeza, não ser tão leviana. Elas sabem que no fundo eu não fujo das minhas batalhas, mas sofro pesadamente com cada uma delas.

Eu precisava falar, de novo.

Estou lendo outro livro. Ontem ele me comoveu. Segundo o autor, julgam como fraca a pessoa que sente e que sofre com as dores do mundo. Mas o correto é dizer ao contrário. Quem sofre é forte, pois passa pela vida superando e indo atrás do objetivo principal de todo ser humano: SER FELIZ. Quem não "sofre" ou não se deixa abater, é o verdadeiro fraco, pois não tem coragem de se permitir superar ou encarar uma situação. São fugitivos da vida.

Decidi que não pretendo ser uma fugitiva. Mesmo que me doa ainda mais.

Pensei tanto no dia de ontem que até quis voltar atrás. Mas aí pensei que sou muito melhor do que aquelas palavras. Enquanto eu quero saber muito, esqueço que poucos querem saber do que tenho a dizer. Vou embora sem querer voltar atrás. Errei, mas aprendi. 

Silêncio, mais uma vez.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

De repente, tudo muda

Nós nunca sabemos quando vai começar. Chega um dia que a gente olha no espelho e tudo mudou. O cabelo está diferente, o sorriso está mais largo, não tem nenhuma roupa nova no armário, mas elas também mudaram. Não parece que foi ontem que a vida me passou uma rasteira. Não parece que foi ontem que eu perdi o chão.

Parece que foi ontem que eu ganhei o chão.

Fico buscando respostas, mas não são aquelas tristes, explicativas demais ou sem solução. Agora, eu busco algo que ainda não sei o que é, mas está longe do tapa que a vida me deu. Tentamos explicar. Os amigos, a família e até mesmo o passado nos pergunta: o que foi que mudou? Foi o espelho? Foi a cabeça? Foi a vontade? Sonho com viagens, com pessoas, sonho com o passado. Mas um passado diferente.

Um passado para não voltar.

Hoje eu acordei, e me perguntei: o que havia mudado? Nada. Tudo. Eu era uma daquelas mulheres que não sabem se vai ou se ficam. Só sonhava com casa, comida e roupa lavada. Agora eu sou outro tipo de mulher. A culpa não foi minha, mas se eu não mudasse, o mundo ia me estragar.

E eu ia estragar o mundo aceitando pouco dele.

Eu parei de ver o mundo tão superficial. Experimentei tanto a superficialidade de tudo, a ponto de não querê-la mais. Olhei, desejei e de repente não era mais eu. Aquele desejo não era mais meu. Ele era do passado, passado que não conhecia o novo.

Agora eu mudei.

Mulher faz essas coisas. Vai até o fim para provar se é verdade. Nunca sabe se vai ou se fica. Mas a gente nunca fica. Somos diferentes, pois não nascemos com um dispositivo que determina o que seremos do começo ao fim das nossas vidas. A vida nos modifica. Nascemos com uma característica única, que muda, transforma.

Ela aciona quando apanhamos da vida.

Nós não somos mais os mesmos e é difícil o mundo entender. É difícil para a gente nos entender. Se eu fosse arriscar, poderia dizer que a vida nos obriga. Obriga a ser feliz, custe o que custar. A vida só não tira a essência, porque é nela que encontramos o nosso melhor. Quando eu pensei que nada ia mudar, tudo mudou.

Eu não tomei a atitude. A atitude me tomou.

Quando ela chegou, eu senti o sangue, a ardência. Fez dos meus quilos, pó e renasceu. Renasceu em forma de coragem, sonhos, vontades, saudades, ideais. Já não sou mais a mesma. Sou minha, sou grande.

Eu nunca mais serei a mesma, mas também nunca mais vou deixar de ser quem eu preciso ser. O mundo me experimentou, agora eu quem vou experimentá-lo.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Como ser o chão de alguém

 Ontem comecei a ler um livro que dói até na alma. Chorei, claro. São contos sobre experiências de vida e como encarar as consequências de uma notícia ruim, de um coração partido ou de uma saudade que não vai embora. Engoli o livro de tão aprendizado que ele é. Sou tão alma que chega a ser chato quando começo a falar. Hoje acordei com uma ligação que me tirou todas as lágrimas do dia. A esperança é cruel. Ela nos dá a chance de sonhar e isso é perigoso.

Fui para o trabalho tentando engolir a tristeza que tal ligação causou. Me recompus, limpei o rosto e o Raul começou a cantar. Lá vamos nós de novo. Coração na mão e força no peito, é apenas isso que me ensinaram a fazer quando não temos escolhas. Ele cantou tão fortemente: "Pare o mundo que eu quero descer", que foi a única coisa que eu queria pedir.

Um minuto de silêncio porque não aguentava mais ver as coisas como elas são. Ele me lembra meu pai, responsável pela paixão nas canções do "Maluco Beleza". Sim, o choro veio em dobro. É Raul, a gente paga para tudo, inclusive para sofrer. Eu não podia contornar o quarteirão, voltar para casa e chorar baixinho na minha cama. Eu só podia seguir, tem uma pessoa que precisa tanto de mim que não dá para ser fraca.

Falei com uma pessoa hoje, fiquei mais animada. A vida tem dessas coisas. Coloca no nosso caminho pessoas que nos fazem acreditar, nos fazem sorrir quando a vontade é só de deixar o tempo passar. Fiquei feliz de novo. Rezei para que meu desejo fosse atendido e o rosto até deu uma iluminada. As pessoas se esquecem de se preocupar, e eu esqueço de não me preocupar. Vou no sentido contrário da população. É chato, eu sei.

Uma irmã disse que eu gosto muito das frases de filmes, e que devia parar de usá-las. E daí se eu fecho o plano americano enquanto recito aquele verso e escuto aquela música de fundo? Eu sorri. Tem gente que nos ilumina, e eu quero iluminar também. Passei a mão no telefone, engoli o choro e dei aquela força que não tenho, mas faço de tudo para ter quando precisam de mim. As vezes a gente tem que ser de ferro e fogo.

Uma vez ouvi a frase: sorria na sala, chore no quarto. Nunca mais esqueci isso. Volto a citar Raul: levante sua mão sedenta e recomece a andar. Não pense que a cabeça aguenta se você parar.

Esperança, ligações, Raul e pessoas especiais. Em menos de 24 horas todas as emoções passaram por mim. Me restou cuidar do que virá, e preparar o coração para a vida, pois ela é uma história com começo, meio e fim.

- Jana Escremin

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VIVA O SENTIMENTO!

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O traço de quem realmente se envolve, se interessa.

Existe um louco em cada canto do mundo. Há quem fale demais, há quem fale de menos. Loucos por comida, bebida, música, dança, livros, política e etc. Consultando para serem consultados, gosto de pensar assim. Na verdade eu sempre quis saber de coisas aleatórias, coisas fúteis e interessantes, não importava. Quis consumir o mundo para poder falar dele para alguém e chamo isso de “Síndrome de Mafalda”. Sabe aquela garotinha baixinha que questiona o mundo nos quadrinhos? Pois é, eu adoro ela e os seus pensamentos loucos e contestadores. Não sou tão contestadora e admito ter raiva de quem é. Não sei para que tanto burburinho quando a solução é mais simples do que o famoso 2 + 2. No entanto, os últimos dias vem mudando meu jeito simples de pensar. Sim, o mundo me engoliu e não está fácil. Pela primeira vez tudo o que busquei é pouco. Sinto como se precisasse saber mais, mais, mais e mais. Sou contra a regra do destino e fico à vontade sem estar. Todos os dias o meu corpo sai do chão enquanto ouço aquelas palavras, aquele jeito novo de ver o mundo. O meu pensamento, que já dispersa facilmente, escapa pela tangente e está admirando e lutando para falar, questionar e aparecer, mas eu sumo no mapa por não saber nada e achar isso um nada tão gigante e grosseiro que o meu coração quase para. Logo eu que achava tão legal passar da água para o vinho, mudar de opinião quando quiser e seguir rumos diferentes quando for preciso, começo a admirar quem opta pelo traço reto e fixo. O traço de quem realmente se envolve, se interessa. Sim, eu admito que não sou a pessoa mais envolvente do mundo. As coisas me atraem, eu atraio as coisas, mas a profundidade delas não me interessa. Não sei se foram os anos, mas as coisas começaram a mudar. A mala que carrego está crescendo, mudando e sinto as placas do meu mundo se afastando. Sem algum motivo aparente me comporto como uma criança desprotegida. Quero saber do mundo, mas acho que o mundo não quer saber de mim. As pessoas envolvem os meus dias com conselhos e eu percebo a maldade que existe em mim. O susto é grande, mas infelizmente o mundo me engoliu. Ainda vivo com os antigos pensamentos e caminho por milhares de lugares, só que agora começo a ficar crítica comigo e com o mundo. Parei de relevar certos absurdos, e por não estar acostumada com essa nova maneira de enxergar a vida, o meu consciente castiga o meu coração. Quem foi educada como eu, traz o peso de deixar o mundo cometendo os seus erros e relevar. Existe um mundo louco com pessoas loucas e me encaixar nele é tarefa difícil. Tenho que ser eu, tenho que ser daquele, tenho que entender, compreender, viver. Tenho muitos verbos para conjugar e tudo em menos de 24 horas. Santa inocência! Quem consegue carregar a mesma pessoa sem agregar nada para si? Sou esponja da pior espécie. Sugo tudo para dentro de mim e quando vou ver já peguei a mania do outro. Não por querer, mas por querer ser tão próxima que preciso ter algo deles comigo. O mundo me enganou e não me preparou para suas armadilhas. Sou esperta até que me provem o contrário, e não ser está fora do meu vocabulário.

- Jana Escremin

Agradeça por ser feliz

A vida é irônica. Quando ela se refaz e surpreende, esquecemos de agradecer, escrever ou gritar. A felicidade fica tão grande que não sobra espaço para as linhas. É tempo demais para amar, tempo que esquecemos e somos felizes sem ter que publicar em alto e bom som. A ironia é sentir ter o mundo nas mãos sabendo que ele não está ali. É entender que o passado passa, e que os medos se escondem com a luz de um sorriso. Não tenho mais tempo para as dúvidas, pois agora fico querendo me conhecer e conhecer o outro. Não preciso participar de joguinhos, pois acabou a fase de ler nas entrelinhas. O meu valor não é dado pelas desculpas do mundo, o meu valor é meu, é dele. Ele que refez os meus pensamentos, que causou estranheza. A ironia é quando o mundo me olha e já sabe que aqui reside um amor. Talvez seja difícil encontrar um tempo entre o trabalho e esse sentimento, mas encontrá-lo talvez é a melhor definição de esperança. Eu, descrente de todo e qualquer amor, vivendo a solidão mais divertida e jogando no ar palavras que nunca chegaram ao seu destino final, me encontro feliz sem medo do depois. Existia um plano e agora ele se foi. Existia uma vontade e agora ela mudou. A vida é irônica. Sorrio sem medo, sem perceber e sem querer me machucar. Mas quem está na chuva é para se molhar, certo? Então aproveito. Talvez a maior ironia é a troca inesperada de personagens, ou talvez seja a reviravolta no final do segundo ato. Seja como for, a vida encontrou um jeito de sinalizar mais forte do que eu, e não faço ideia de como ela encontrou ironia no que estava perdido, mas em troca eu encontrei amor olhando mais para o lado de cá, do que para o lado de lá.

- Jana Escremin

Você está sentindo demais, menina





Nosso coração está na mão e pela primeira vez gostamos da sensação de deixá-lo exposto. Mas ele apanha, porque desaprendeu todas as técnicas. É como se as palavras estivessem no ar, mas falta alguma coisa. Procuramos ser perfeita, e no mesmo segundo toda a insegurança do mundo cai sobre nós. Descobri que é impossível ser resistente com o que sentimos. É tudo inesperado e nenhuma ação é calculada. Fazemos perguntas que não queremos (e não devemos) ouvir a resposta, e a paranoia não acaba por aí. Achamos que somos o erro porque há muito tempo não sabemos amar. Mas nós tentamos, pois é o único caminho seguro para chegar onde sonhamos. "É pau, é pedra, é o fim do caminho", literalmente. De repente o mundo nos joga no abismo que é sentir tanto, querer tanto, buscar tanto e ter medo de dar tudo errado. Nosso disfarce esqueceu de aparecer quando mais precisamos, ele sempre nos deixa na mão! Maldito disfarce que não sabe segurar um sorriso, uma lágrima, um abraço ou admiração. Queremos conquistar o mundo e esquecemos que a conquista é natural, assim como esse sentimento que grita no nosso peito. Se amar sozinha já é uma loucura, imagina amar em dobro? Aparecem cobranças que não deveriam estar lá. Nos libertamos aos poucos pois ainda não sabemos amar direito, mesmo que o sentimento já esteja aqui dentro. Depois de muito tempo nós queremos sentir isso para sempre e mesmo não sabendo lidar com a novidade que é amar, nós fazemos. É difícil levar para alguém o que aprendemos com antigos caminhos, e por isso talvez apanhamos tanto do amor. Temos que reescrever uma história que não possui base. Ela é pura e sem passado. Isso assusta pois não sabemos quantas vezes podemos errar e o mais importante: nós não queremos errar. Por isso a cobrança vai além das nossas vivências. Não adianta querer montar diálogos que desmoronam quando olhamos fundo no olho da pessoa. O natural está na moda, e o meu coração é a tendência dessa estação que não quer acabar.

- Jana Escremin

Dose de amor


Qual é a dose certa para o medo? Mesmo que você leia ou assista tudo sobre o amor, ainda resta medo, e muitas vezes perdemos o controle do que sentimos. É uma montanha russa insegura, daquelas que apavoram, mas proporcionam boas risadas. E o pior é que não existem conselhos para ouvir. É você por você mesmo. É aquela velha história de que “só arriscando para saber”. Quando está morno você desconfia, se está quente você aproveita e quando esfria você mal sabe o que fazer. A vida é baseada em escolhas e escolher nos dá 50% de chances de errar ou de acertar. Mas quem disse que deve ser assim? Onde está o manual dessa loucura que chamam de amor? Todos os dias dosam o meu medo e isso me leva a loucura. O mundo não é confiável, porém se quero, preciso confiar. Caso contrário nada nos resta. Ou melhor: ninguém nos resta. Tudo é motivo para não acreditar. O medo é porque desta vez não estou vivendo o disco riscado e sei que posso começar de novo. Parece que vivo um dia após o outro com o coração na mão e essa coisa de dar certo ou errado não possui garantias. A felicidade que estou vivendo me cobra confiança, confiar em mim de olhos fechados e acreditar que posso me agarrar a uma escolha certa. O que acontece é que essa felicidade já se esqueceu de quantos textos escrevi por escolhas erradas. É nesse medo que me apoio e é nele que procuro pista das escolhas que fiz. Não falo sobre arrependimento ou tristeza, falo sobre lidar com um sentimento novo, que diferencia de todo o histórico amoroso que criei até aqui. É tão novo que dá medo, dá paixão, dá leveza, dá sentimento verdadeiro. Como posso confiar nas coisas que dão certo? Minha capacidade de escolher errado me preocupa ou me abandona, e estou apostando na segunda opção. Enfim, agora eu pergunto: Qual é a dose certa para o medo de amar?

- Jana Escremin

Quem é você?

Tem um olhar que rouba carinho. Tem um toque que desperta desejo. Tem um julgamento que ameaça. Tem um quê de quem sabe tudo. Tem bons argumentos. Tem bondade quando fala. Tem maldade quando acusa. É cativante. Tem um outdoor de pretendentes. Tem um jeito de quem vai abandonar tudo. Tem segurança de que o mundo é bom. Tem uma voz que silencia. Ele olha como se fosse me despir, e me convence de qualquer coisa. Tem essa mania de colocar medo, mas plantar amor. É diferente de todos, mas já foi igual. Cutuca na ferida, mas faz carinho no coração. É tanta tempestade que quando vira calmaria, dá nó na garganta. Traz insegurança, mas liberta o que há tempos não conseguia sair do lugar. É o jeito dele que atrai, é a forma como fala e observa. É o carinho que não sente vergonha de ser visto. São as frases e a urgência do tempo que fazem dar certo. É a paz que encontrei sem procurar. É o que já foi ruim se tornando bonito. É o abraço no meio da noite. Não sei ainda o que é, mas despertou o meu interesse no primeiro instante que conheci. Faço uma pesquisa de campo enquanto ele dorme. Dou risada do jeito natural e da tranquilidade do olhar. Diz que preciso pensar melhor, mas quando percebo está pensando muito mais do que eu. Não é impulsivo, mas mexe com a minha impulsividade. É estranho conhecê-lo, admirá-lo e não ter certeza se o conheço de verdade. É do tipo que consegue encaixar todos os seus pedaços sem que sobre espaços aqui dentro. É a importância que dá quando sou vista pelos olhos dele. É o carinho que dá sem pedir nada em troca. É o medo que circula aqui e ali. É diferente de mim, é igual ao que procuro. Por fim, é quem quer ficar, é quem não tem vergonha. É quem engoliu o orgulho por mim, e educa o meu ciúmes cada dia que passa. É o meu coração a bater mais forte quando ele sorri. É o meu coração querendo ser mais dele do que meu. É mais do que posso explicar já que não o entendo por completo, mas sei que já amo.

- Jana Escremin

Cuspindo moral

Eu discordo dessa mania horrorosa que você tem de levar a vida. Cospe moral e se esquece de levantar a bandeira branca. Tudo é contra você, todos estão querendo te derrubar, e na verdade o que falta é perceber que nem do chão você saiu. Vive julgando o mundo, e eu só peço para que entenda o sentimento dos outros. Talvez aquele ditado que você faz questão de tatuar no peito seja verdade: você atrai aquilo que transmite. Então, chega de transmitir egoísmo. O mundo não é injusto, como você discursa por aí. O mundo é justo, pois coloca paciência em cada pessoa que passa pela a sua vida. Afinal, sem ela poucos sobrariam. Não faz essa pose de dono da razão, porque até ela foge de você. Finge que não nasceu tão narcisista e pense um pouco nos outros. Sei lá, faça algo diferente, saia desse chão e encare os seus erros. Só assim você entenderá que os seus conflitos existem apenas por sua causa. Entenda de uma vez por todas que a vida é simples, e vem aqui no meu lugar. Para de defender o seu mundinho com unhas e dentes, porque é normal errar. Eu errei, você errou, todo mundo erra. Não bata mais nessa tecla. Observe quantas vezes você quase chegou lá e quantas vezes ninguém sobrou para contar história. De uma vez por todas, chega desse discurso. A mágoa que você planta é ferida que demora para sarar, então comece a pensar um pouco mais. Não são os outros que erram com você, é você que não aceita o erro de ninguém. De imperfeições o mundo está lotado, por isso saia desse casulo que você acha correto e comece a viver. Sua moral pode gritar pelos quatro cantos do mundo, mas ela nunca será vivida enquanto o egoísmo reinar no seu dia a dia. Está faltando viver mais pelo o outro. Quem sabe assim outros sentimentos podem brotar no seu coração, como a preocupação por quem quer fazer parte da sua vida. Não estrague tudo só porque coisas erradas aconteceram. Seja um erro ambulante, mas seja um erro que aprende e mude para acrescentar valor em você e nos outros. Por fim, deixo o meu conselho: seja mais leve e terá a leveza do mundo.

- Jana Escremin

Não vou me preocupar

Não vou me preocupar com os seus olhares. Eles traduzem a paranoia de um dia ter desejado você, mas ser feliz ao não ter. Lembro daqueles encontros... Como o sorriso escapou, e como tudo o que conseguimos dizer foi embora sem dar a certeza do que foi cada segundo ou palavra.

Talvez os meus pensamentos sejam sobre você e o jeito que me desarmava. Talvez não sabia decifrá-lo e o mistério me alucinou. Andei pelas ruas e me sentia livre, mas fiquei presa nas suas palavras. Você é a única prisão que me fazia bem.

Todos aqueles planos foram para o ar quando você passou por aquela porta. Todos aqueles beijos reservaram um lugar todo seu. Toda a loucura procurou a paz, e a encontrou. Isso você nunca entenderá. Você é apenas mais um fugitivo da luz que joguei para te cegar.

E quando você quiser brilhar não existirá espaço para os meus depósitos e esperanças. Não vou me preocupar com as chances desperdiçadas. Era você, até que a salvação veio de onde menos esperava. Era você, até não sobrar nada de você. Era você, até eu repetir mil vezes que era você em no passado antigo e sem pretensão de se tornar futuro.

Não vou me preocupar com as voltas que a vida dá. Não vou me preocupar com você ou com os seus olhares. Meu julgamento acabou, e você também.

- Jana Escremin

Tudo favorecia, até que...

Existem semanas boas e lembro de viver uma delas há sete dias atrás. O descanso, o trabalho, os amigos, o amor. Tudo favorecia o sorriso e me esqueci dos últimos dias desastrosos. Pois é, existem semanas difíceis, quem não tem? É aquela época em que a paciência acaba, a insegurança impera, o tempo passa arrastado e as palavras são preguiçosas. O turno entre essas semanas podem alterar o meu destino. Com o tempo aprendi a mudar o foco, a vontade, o jeito, a dedicação, e essa história se repete dia sim, dia não. Encontrei o meu rumo, mas perdi o rumo dos outros. Em semanas ruins o meu olhar fica atento, chato, perseguidor e extremamente dramático. É um exercício complicado e controlador. Corro o risco de estragar pessoas e palavras, mas não quero deixar acontecer. Afinal, o que importa é ter calma contra a falta de reconhecimento ou a ausência de desculpas, certo? São 24 horas premiadas. 24 horas sem me rebelar. Mas quer saber? No final não importa, serei julgada pelo o meu posicionamento em dias ruins, querendo ou não. São nesses dias que a verdade sai, a leveza toma conta e aí eu encontro o tal "bom dia" que desejam por aí. As vezes o que falta para levar uma vida boa é dizer o que se pensa. Hoje é um dia ruim, eu sei, mas a esperança é que a semana seja boa. No fundo, pouco importa como essa oscilação pode afetar. O que eu sei é que tenho uma tarefa: não deixar afetar quem está aqui para fazer o bem. Parei de desperdiçar palavras com mágoa ou com esse tempo que não me favorece. Existem dois lados para toda história, e eu fico do meu lado e com quem decidiu ficar comigo.

- Jana Escremin

O coração fala mais alto, não lute

Retruquei. Bati o pé e disse em silêncio que não queria nada disso para a minha vida. Fingi não me importar, afinal, a solidão já fazia morada há tanto tempo que trocá-la seria traição. Ouvi os rumores, as previsões e as insanidades sobre a mudança que estava por vir. Agarrei com força o porto seguro que vivia, tranquei o coração e proibi qualquer brilho no olhar.

Porém, o que eu não conseguia entender é que eu não mandava mais no coração. Foram anos segurando-o para agora perdê-lo sem cerimônias. O discurso estava mudando e eu relutei. Quis impedir a chegada do futuro oferecendo a oportunidade para outra pessoa. Tarde demais. A solidão fez a sua mala e não suportou a chegada do amor.

Esqueci-me do orgulho, da vontade, do medo, da humilhação. Esqueci de todas as regras enumeradas nos últimos cinco anos. Pois é, talvez amar seja um exercício diário que só se fortalece quando é praticado. Mas eu estava fora de forma, então teria que aprender... Mais uma vez. Prometi que ia deixar passar, até porque era a única coisa que sabia fazer com eficiência.

Não poderia me envolver, isso exigiria passar por cima de discursos curtos e retos. Eu queria a certeza do que estava sentindo, e essa confusão me levou para o outro lado do rio. Sem perceber, tomei o meu coração, joguei as regras e comecei a me esforçar. Se no fundo do peito já não habitava ninguém, muito menos a frieza, estava na hora de conseguir o novo morador.

Coração cansado, amor surrado, olhos compenetrados. O plano era abraçar o capeta, já que me envolvi com o inferno. Porém ele era tudo, menos inferno. O inferno era recusar o que estava nos outdoors. Nesse momento compreendi que estava entregue ao destino e não poderia fazer nada para muda-lo. Parei com a birra e continuei. E se não fosse pela desistência da solidão ou pela minha vontade incontrolável, talvez eu não descobrisse como é o lado de cá. Foi preciso encontrar na dor o amor.

- Jana Escremin

Quem gosta de falar, vai entender

Eu nunca consegui guardar um desabafo, uma tristeza ou decepção. Sou assim até com o que me faz bem. Gosto de falar, compartilhar! Porém nos últimos dias alguma coisa mudou. Falei tanto do meu orgulho para engolir ele no absoluto silêncio. Dei tantos conselhos sobre o que fazer quando o coração se quebra, mas esqueci de seguir cada um deles. Chorei no quarto, sem ninguém para falar, orientar ou questionar. O choro sabia o motivo, apenas não o entendia. A esperança, o orgulho, a decepção e a luta eram sentimentos grandes e cheios de si, mas infelizmente foram quebrados. Cadê o meu velho outdoor? Onde estão as pessoas para desabafar e consolar o meu coração traído? Logo eu, que nunca soube guardar nada, agora convivo com a vergonha de não ser a moça forte e equilibrada. Algo me incomoda e sustenta. Os dias passam e o meu desejo é que a vergonha também passe. Fiquei por anos recusando convites e agora todo o discurso se tornou mais um. A primeira oportunidade foi embora e eu aceitei o único conselho que cabia dentro do peito: se você aceitou, você deve esquecer. E agora é todo dia assim. Dois minutos sozinha bastam para o meu coração traído imaginar que nada mudou. Reeduco a cabeça para continuar, e fico ocupando a vaga de não ser tão especial quanto pensava. Pela primeira vez finjo, e engulo no seco todo o incômodo e o pesadelo de reviver essa história. Vou lembrando das situações em que ouvi e aconselhei. Quantas pessoas já se doaram e foram enganadas? Quantas delas insistiram, e quantas conseguiram? Talvez o que me falta é persistência. Sempre fui a moça dos perdões, mas sempre deixei para trás qualquer ferida. Desta vez foi diferente, houve perdão e eu continuei por aqui. Esqueço a dor para continuar em silêncio e vou lutando para me tornar o que pensava que era. As vezes o que falta é um choque da realidade para que tudo mude, inclusive eu.

- Jana Escremin