Retruquei.
Bati o pé e disse em silêncio que não queria nada disso para a minha
vida. Fingi não me importar, afinal, a solidão já fazia morada há tanto
tempo que trocá-la seria traição. Ouvi os rumores, as previsões e as
insanidades sobre a mudança que estava por vir. Agarrei com força o
porto seguro que vivia, tranquei o coração e proibi qualquer brilho no
olhar.
Porém, o que eu não conseguia entender
é que eu não mandava mais no coração. Foram anos segurando-o para agora
perdê-lo sem cerimônias. O discurso estava mudando e eu relutei. Quis
impedir a chegada do futuro oferecendo a oportunidade para outra pessoa.
Tarde demais. A solidão fez a sua mala e não suportou a chegada do
amor.
Esqueci-me do orgulho, da vontade, do medo, da
humilhação. Esqueci de todas as regras enumeradas nos últimos cinco
anos. Pois é, talvez amar seja um exercício diário que só se fortalece
quando é praticado. Mas eu estava fora de forma, então teria que
aprender... Mais uma vez. Prometi que ia deixar passar, até porque era a
única coisa que sabia fazer com eficiência.
Não poderia me
envolver, isso exigiria passar por cima de discursos curtos e retos. Eu
queria a certeza do que estava sentindo, e essa confusão me levou para o
outro lado do rio. Sem perceber, tomei o meu coração, joguei as regras e
comecei a me esforçar. Se no fundo do peito já não habitava ninguém,
muito menos a frieza, estava na hora de conseguir o novo morador.
Coração cansado, amor surrado, olhos compenetrados. O plano era abraçar
o capeta, já que me envolvi com o inferno. Porém ele era tudo, menos
inferno. O inferno era recusar o que estava nos outdoors. Nesse momento
compreendi que estava entregue ao destino e não poderia fazer nada para
muda-lo. Parei com a birra e continuei. E se não fosse pela desistência
da solidão ou pela minha vontade incontrolável, talvez eu não
descobrisse como é o lado de cá. Foi preciso encontrar na dor o amor.
- Jana Escremin
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