quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O coração fala mais alto, não lute

Retruquei. Bati o pé e disse em silêncio que não queria nada disso para a minha vida. Fingi não me importar, afinal, a solidão já fazia morada há tanto tempo que trocá-la seria traição. Ouvi os rumores, as previsões e as insanidades sobre a mudança que estava por vir. Agarrei com força o porto seguro que vivia, tranquei o coração e proibi qualquer brilho no olhar.

Porém, o que eu não conseguia entender é que eu não mandava mais no coração. Foram anos segurando-o para agora perdê-lo sem cerimônias. O discurso estava mudando e eu relutei. Quis impedir a chegada do futuro oferecendo a oportunidade para outra pessoa. Tarde demais. A solidão fez a sua mala e não suportou a chegada do amor.

Esqueci-me do orgulho, da vontade, do medo, da humilhação. Esqueci de todas as regras enumeradas nos últimos cinco anos. Pois é, talvez amar seja um exercício diário que só se fortalece quando é praticado. Mas eu estava fora de forma, então teria que aprender... Mais uma vez. Prometi que ia deixar passar, até porque era a única coisa que sabia fazer com eficiência.

Não poderia me envolver, isso exigiria passar por cima de discursos curtos e retos. Eu queria a certeza do que estava sentindo, e essa confusão me levou para o outro lado do rio. Sem perceber, tomei o meu coração, joguei as regras e comecei a me esforçar. Se no fundo do peito já não habitava ninguém, muito menos a frieza, estava na hora de conseguir o novo morador.

Coração cansado, amor surrado, olhos compenetrados. O plano era abraçar o capeta, já que me envolvi com o inferno. Porém ele era tudo, menos inferno. O inferno era recusar o que estava nos outdoors. Nesse momento compreendi que estava entregue ao destino e não poderia fazer nada para muda-lo. Parei com a birra e continuei. E se não fosse pela desistência da solidão ou pela minha vontade incontrolável, talvez eu não descobrisse como é o lado de cá. Foi preciso encontrar na dor o amor.

- Jana Escremin

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