Perdemos
quilos, rumo, vontade, beleza... Menos o sentimento. Esse maldito não
aceita “não” como resposta e perdoa sem o nosso consentimento,
insistindo em viver com saudades do que aconteceu. Ele vira raiva às dez
da manhã, paixão às três da tarde e angustia às oito da noite. Vira
falta de explicação, como aquele silêncio seco e congelante que fui
obrigada a aceitar. O sofrimento vira tema na mesa
de bar, na poltrona do terapeuta, no ouvido de Deus. Quero sem poder
ter, sem poder desejar. Quero da forma mais pura que alguém pode querer:
querendo e ponto final. É vergonhoso querer alguém que aos quarenta e
cinco minutos finais do relacionamento causou tanta dor. Mas mesmo após
todos os prejuízos fica fácil ser feliz, olhar e não poder tocar, ver e
não poder compartilhar. Perdemos alguém em que depositamos esperança,
confiança, aprendizado e acima de tudo fé. Quanta fé eu tinha, quanta fé
eu perdi. Fé de que no momento em que o perdão surgiu tudo poderia
mudar. Fé de que o amor realmente muda tudo, inclusive nós. Fé em nossa
paciência. Fé enganada, judiada e pisoteada. Hoje mal dá vontade de
comer, sorrir ou sonhar. É óbvio que o tempo será o remédio, já cansei
de ouvir isso, e a verdade é que somente eu posso preencher esse vazio, e
ter colocado o meu coração nas mãos de outra pessoa é pedir pra ser
infeliz. Mas aqui dentro tudo aperta, sufoca, grita. Estava escrito que
seria assim? Foi tão claro que fiquei cega para a tristeza que se
instala neste momento? Não ser de mentira tem os seus problemas.
Sufoquei, busquei, lutei, derramei, fucei, causei, amei. Tantos verbos
confusos, mas gerados a partir da história turbulenta, impulsiva e um
dia correspondida. Verbos que dependiam apenas de uma pitada de
segurança, esta que já estava sendo instalada aos poucos, mas se perdeu
quando a tempestade começou. Não ser recíproco, dói. E agora passo um
dia sorrindo, o outro chorando. Não é justo querer tanto de alguém
pouco, é burrice desejar quem não quer mais o meu sorriso, o meu olhar, o
meu amor. É dor calada, profunda. Por um momento pensei estar indo pelo
caminho correto e já estava escrevendo sobre como modifiquei um amor,
mas fui enganada. Nada disso aconteceu, nada mudou, nada perpetuou. Com o
coração na mão me exponho e grito no silêncio: “Moço, para de se
sabotar”. Nada acontece, só o sentimento permanece. Grito para que vá
embora, e lembro-me dos momentos ruins para fortalecer o meu coração,
porém o infeliz insiste em querer quem não se pode ter. Minha teimosia
dói, minha esperança dói e todo dia dói amar com tantas provas do que
devo fazer e não sentir.
- Jana Escremin
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