quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A terapia dos desesperados

Ontem a terapeuta quase gritou comigo (ou fui eu quem imaginei isso?). Dizia ela que não sou culpada pelo o que houve e que não posso me responsabilizar pelo o que o outro sente. Cada um é dono do seu sentimento, porém a partir disso comecei a descrever a bíblia. Mas ela sempre interrompe dizendo o quanto estou cobrando algo que deveria ser deixado para lá. “O que foi bom, foi bom lá no passado, se houve mudanças, o melhor é esquecer”. Segundo ela, tudo vai embora, tudo escapa, tudo consome e só cabe a nós termos a paciência e a maturidade para seguir em frente. O que a terapeuta não sabe é que entendo tudo o que ela diz, mas é difícil aceitar. Aceitar o fim, aceitar o silêncio, aceitar querendo alguém que não posso ter. “Queridinha, eu lutei, perdoei, fiz do fígado – coração para esse homem me amar e ele se perde assim? Sem mais nem menos? Cadê a minha recompensa?”. Ela respira fundo, me olha com os olhos de quem não acredita em mim, mas compreende. E aí começa o discurso: você é nova, jovem, linda, sorridente, então pare de se menosprezar, ele não dará certo com ninguém enquanto for superficial. Já você encontrará na primeira oportunidade, pois é entregue ao que sente. Digo para ela que o meu tormento é sentir o quanto fui inútil por não tirá-lo do lugar cômodo que insiste em viver. Cobro-me por não ser capaz de fazê-lo ficar. Mas ela começa a me perguntar coisas estranhas. “Ele entrava na sua casa? Ele se envolvia com os seus amigos? Ele confidenciava segredos a você? Ele encontrava conforto na sua companhia? Ele colocava você ao lado dele para qualquer situação importante?” Não entendo aonde ela quer chegar, mas começo a suspeitar. Todas as respostas ecoam com um grande “ene – a – o - til”. Ela me olha e sorri e eu choro. Tudo o que tentei foi ensinar a alguém, que parece não conhecer o amor, que ele faz a gente querer dizer sim para tudo o que vem do outro. Eu recebi muitos nãos e fingi não enxergar nenhum deles. Segundo a especialista em problemas alheios, eu idealizei uma pessoa que se mostrou em pequenos momentos e me apegar a isso não fará bem algum. Enxugo as lágrimas e ela explica que não sou eu, é ele. Que errei, sou humana e para o resto da minha vida estou propensa a perder pessoas pelos os meus erros. No entanto, esses erros são de problemas causados por ele, problemas que ele não soube lidar e ninguém saberia engolir. Ela cutuca dizendo que eu deveria ter enxergado quem ele é quando o primeiro problema apareceu, mas eu reluto. Digo que acreditava na mudança pelo o amor, na mudança pela luta. “Hey, estou aqui ainda moço, mesmo depois de tudo você vai ver que te amar é me amar, e seremos felizes para sempre”. Bobagem, luta perdida e sozinha. Amor muda muitas coisas... Desde que elas queiram ser tocadas ou mudadas. O amor muda quando queremos, quando nos abrimos para o desconhecido e entregamos nossa vida a ele. E lá vem ela com outra pergunta: “ele se entregou para esse relacionamento?” - “Ene – a – o - til”. Silêncio na sala. Ela sorri, diz para ter paciência, pois minha parte foi feita. Amar foi o único erro que não cometi, e não se entregar foi o pior dos erros que ele cometeu, pois estragou quem eu sou, quem ele é e quem eu idealizei. Dou um sorriso no meio de lágrimas, e ela termina a sessão pedindo que na semana que vem eu esteja mais forte após a nossa conversa. Eu já aviso que sou do signo de Peixes e com a mesma profundidade que amo, eu sofro. Ela terá trabalho, mas já me faz enxergar os problemas do começo, meio e fim desta história que consome os meus dias.

E quando chegamos ao final da sessão ela diz: "Moça, um foda-se bem grande equivale a 10 anos de terapia, é o que dizem". Mentira, ela jamais diria isso, mas é o que tento pensar e fazer.

- Jana Escremin

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