Ontem
a terapeuta quase gritou comigo (ou fui eu quem imaginei isso?). Dizia
ela que não sou culpada pelo o que houve e que não posso me
responsabilizar pelo o que o outro sente. Cada um é dono do seu
sentimento, porém a partir disso comecei a descrever a bíblia. Mas ela
sempre interrompe dizendo o quanto estou cobrando algo que deveria ser
deixado para lá. “O que foi bom, foi bom lá no passado, se
houve mudanças, o melhor é esquecer”. Segundo ela, tudo vai embora,
tudo escapa, tudo consome e só cabe a nós termos a paciência e a
maturidade para seguir em frente. O que a terapeuta não sabe é que
entendo tudo o que ela diz, mas é difícil aceitar. Aceitar o fim,
aceitar o silêncio, aceitar querendo alguém que não posso ter.
“Queridinha, eu lutei, perdoei, fiz do fígado – coração para esse homem
me amar e ele se perde assim? Sem mais nem menos? Cadê a minha
recompensa?”. Ela respira fundo, me olha com os olhos de quem não
acredita em mim, mas compreende. E aí começa o discurso: você é nova,
jovem, linda, sorridente, então pare de se menosprezar, ele não dará
certo com ninguém enquanto for superficial. Já você encontrará na
primeira oportunidade, pois é entregue ao que sente. Digo para ela que o
meu tormento é sentir o quanto fui inútil por não tirá-lo do lugar
cômodo que insiste em viver. Cobro-me por não ser capaz de fazê-lo
ficar. Mas ela começa a me perguntar coisas estranhas. “Ele entrava na
sua casa? Ele se envolvia com os seus amigos? Ele confidenciava segredos
a você? Ele encontrava conforto na sua companhia? Ele colocava você ao
lado dele para qualquer situação importante?” Não entendo aonde ela quer
chegar, mas começo a suspeitar. Todas as respostas ecoam com um grande
“ene – a – o - til”. Ela me olha e sorri e eu choro. Tudo o que tentei
foi ensinar a alguém, que parece não conhecer o amor, que ele faz a
gente querer dizer sim para tudo o que vem do outro. Eu recebi muitos
nãos e fingi não enxergar nenhum deles. Segundo a especialista em
problemas alheios, eu idealizei uma pessoa que se mostrou em pequenos
momentos e me apegar a isso não fará bem algum. Enxugo as lágrimas e ela
explica que não sou eu, é ele. Que errei, sou humana e para o resto da
minha vida estou propensa a perder pessoas pelos os meus erros. No
entanto, esses erros são de problemas causados por ele, problemas que
ele não soube lidar e ninguém saberia engolir. Ela cutuca dizendo que eu
deveria ter enxergado quem ele é quando o primeiro problema apareceu,
mas eu reluto. Digo que acreditava na mudança pelo o amor, na mudança
pela luta. “Hey, estou aqui ainda moço, mesmo depois de tudo você vai
ver que te amar é me amar, e seremos felizes para sempre”. Bobagem, luta
perdida e sozinha. Amor muda muitas coisas... Desde que elas queiram
ser tocadas ou mudadas. O amor muda quando queremos, quando nos abrimos
para o desconhecido e entregamos nossa vida a ele. E lá vem ela com
outra pergunta: “ele se entregou para esse relacionamento?” - “Ene – a –
o - til”. Silêncio na sala. Ela sorri, diz para ter paciência, pois
minha parte foi feita. Amar foi o único erro que não cometi, e não se
entregar foi o pior dos erros que ele cometeu, pois estragou quem eu
sou, quem ele é e quem eu idealizei. Dou um sorriso no meio de lágrimas,
e ela termina a sessão pedindo que na semana que vem eu esteja mais
forte após a nossa conversa. Eu já aviso que sou do signo de Peixes e
com a mesma profundidade que amo, eu sofro. Ela terá trabalho, mas já me
faz enxergar os problemas do começo, meio e fim desta história que
consome os meus dias.
E quando chegamos ao final da sessão ela
diz: "Moça, um foda-se bem grande equivale a 10 anos de terapia, é o
que dizem". Mentira, ela jamais diria isso, mas é o que tento pensar e
fazer.
- Jana Escremin
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