E
eu choro porque dói lavar a alma e redigir as palavras engasgadas.
Percebo que agora que cheguei ao fundo do poço com as minhas palavras e
essa mala pesada, só posso sentar, relaxar e criar forças para subir
mais uma vez. Quando começar a subida eu ainda não sei, deixa o tempo
dizer, deixa a força aparecer. Tantas frases jogadas ao vento para
ninguém sustentar. Qual é a justiça desse mundo que propaga
dar amor e não retribui na mesma proporção? Se falta lá, transborda
aqui. De que adianta? Alguns dizem que no auge da minha fraqueza, surge a
minha maior coragem. Dou a cara a tapa para apanhar dos dois lados da
face, e fico lembrando dia após dia como é aprender de uma vez por todas
que nem toda declaração do mundo fará alguém nos amar. Talvez essa dor
veio para eu não ser tão tola na próxima vez, e caminhar ao lado da
cautela, levando-a como uma amiga. Pela primeira vez jogo no lixo o
cartaz grande que coloquei sobre a minha vida: “É amando que se ganha
amor”. As coisas nunca são suficientes e essa frase é só mais uma
publicidade para quem ainda tem esperança. Já que as minhas foram
embora, continuo a lavar a alma. E lavar a alma para mim é falar,
escrever, manchar o coração de tanto sangue e lágrimas que fica
impossível corrigir tais burradas. Santo mundo injusto! De que vale amar
se podemos desistir? Levo a lição de casa na ponta da língua, do
coração, da alma. Alma esta, que está riscada, molhada e cheia de dor.
Não posso ser tão ruim para não receber o tanto que tentei dar. Mas o
que fazer? Cada um paga o preço pela quantidade de amor que espalha pelo
o mundo. Meu fardo pesou pois não ouvi os sinais, saí por aí de mãos
dadas ignorando todas as regras de cair fora, jurando de pé junto e
coração na mão que eu seria capaz de provar que o amor valia a pena,
custe o que custasse. E custou. Tão caro, raso, dolorido e sem volta.
Neste momento estou recolhendo os cacos, aceitando todos os nãos
recebidos e ao invés de engolir cada um deles como eu fazia, eu estou
guardando-os. Não quero mais palavras engasgadas, não quero mais
explodir e cair em braços que não sentem mais o meu calor. Que essa seja
a última lavagem da alma e que seja para o meu bem, de uma vez por
todas. Onde dói, vai continuar a doer. Onde a saudade mora, vai
continuar a morar. Onde o abandono chegou, vai continuar a ficar
abandonado. Esta deve ser só mais uma história, e como todas em nossa
vida, ela tem um final. Feliz para alguns, desastrosos para outros.
- Jana Escremin
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