E
eu via tudo em você. Via os seus olhos, as suas mãos, a sua boca.
Sempre soube quando algo estava errado e quando você estava amando.
Sabia quando desconfiar, quando atirar, quando prevenir o meu coração
das coisas que poderiam me machucar. Não houve um dia em que meu
instinto não estivesse enganado. Enxergava em você um Danilo Gentili
(que você não gosta) mas que trazia alegria, assim como o cara
da TV. Eu olhava o cara com a risada mais deliciosa e com o descaso
mais dolorido. Eu te via como todo mundo vê, menos você. De tanto
insistir que eu não sabia o que via, passei a confundir o que sabia
sobre você. Passou os últimos meses reclamando de qualquer coisa que eu
achasse legal. Seu sobrenome era crítica, mas eu gostei disso. Gostei
porque colocava fogo, porque não deixava eu afundar em um relacionamento
monótono. Gostei de você quando você me quis, quando você não me quis,
quando você me quis novamente, quando nos amamos pela primeira vez,
segunda vez, terceira e assim sucessivamente. Gostei do modo como você
me olhava e acariciava o meu rosto, cabelos e mãos. Até chegar o dia em
que a carícia trocou de nome. Virou um crítico para as roupas, o cabelo e
o comportamento. Lembro-me de quando joguei um papel no chão e como
você pirou com aquilo. Sim, eu errei. Nunca mais tive coragem de jogar
nada no chão, e eu nem era dessas, mas em algum momento acabei fazendo,
logo na sua frente, que erro fatal. Você implicou com os meus gostos, e
eu só me lembrava de quando isso era algo interessante entre nós. Um
ensinando o universo do outro. Um descobrindo o que o outro gostava e
gostando junto. Hoje eu gosto mais das coisas que nunca me pertenceram,
pois te deixei entrar e pendurar um quadro de rock na sala e até hoje
olho para ele sorrindo. Talvez o meu jeito tivesse mais sucesso se fosse
mais egoísta, mas eu não sou assim. Sou "dando para receber" e essa é a
minha vida. Ah, como você mudou minha vida em poucos meses. Sinto mais
saudades dos seus amigos do que de você. Mais saudade dos seus abraços
do que de você. Mais saudade de nós lá no início, em uma formatura, em
um carro com os beijos, carinhos e demonstrações de afeto. Você se
lembra de quando me disse estar apaixonado? Nós dois, um carro, uma rua.
A minha rua! Foi como se naquele momento você plantasse algo no meu
peito apenas com uma frase: “Como eu posso não me apaixonar por você?”.
Pois é, até hoje essa frase ecoa nos meus ouvidos, e eu fico me
perguntando: “Como você pode não se apaixonar mais por mim?” Respostas
em silêncio e um caminho limpo, lembrando do amor que eu amei, e não
esse desconhecido que mal olha nos meus olhos ao me ver pela rua. Sim,
me apaixonei por um você cheio de mistérios, cheio de amor, mas não sei
aonde aquele cara se escondeu e para ser sincera não estou afim de
procurar, não mais.
- Jana Escremin
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