quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Enxerguei além de você

E eu via tudo em você. Via os seus olhos, as suas mãos, a sua boca. Sempre soube quando algo estava errado e quando você estava amando. Sabia quando desconfiar, quando atirar, quando prevenir o meu coração das coisas que poderiam me machucar. Não houve um dia em que meu instinto não estivesse enganado. Enxergava em você um Danilo Gentili (que você não gosta) mas que trazia alegria, assim como o cara da TV. Eu olhava o cara com a risada mais deliciosa e com o descaso mais dolorido. Eu te via como todo mundo vê, menos você. De tanto insistir que eu não sabia o que via, passei a confundir o que sabia sobre você. Passou os últimos meses reclamando de qualquer coisa que eu achasse legal. Seu sobrenome era crítica, mas eu gostei disso. Gostei porque colocava fogo, porque não deixava eu afundar em um relacionamento monótono. Gostei de você quando você me quis, quando você não me quis, quando você me quis novamente, quando nos amamos pela primeira vez, segunda vez, terceira e assim sucessivamente. Gostei do modo como você me olhava e acariciava o meu rosto, cabelos e mãos. Até chegar o dia em que a carícia trocou de nome. Virou um crítico para as roupas, o cabelo e o comportamento. Lembro-me de quando joguei um papel no chão e como você pirou com aquilo. Sim, eu errei. Nunca mais tive coragem de jogar nada no chão, e eu nem era dessas, mas em algum momento acabei fazendo, logo na sua frente, que erro fatal. Você implicou com os meus gostos, e eu só me lembrava de quando isso era algo interessante entre nós. Um ensinando o universo do outro. Um descobrindo o que o outro gostava e gostando junto. Hoje eu gosto mais das coisas que nunca me pertenceram, pois te deixei entrar e pendurar um quadro de rock na sala e até hoje olho para ele sorrindo. Talvez o meu jeito tivesse mais sucesso se fosse mais egoísta, mas eu não sou assim. Sou "dando para receber" e essa é a minha vida. Ah, como você mudou minha vida em poucos meses. Sinto mais saudades dos seus amigos do que de você. Mais saudade dos seus abraços do que de você. Mais saudade de nós lá no início, em uma formatura, em um carro com os beijos, carinhos e demonstrações de afeto. Você se lembra de quando me disse estar apaixonado? Nós dois, um carro, uma rua. A minha rua! Foi como se naquele momento você plantasse algo no meu peito apenas com uma frase: “Como eu posso não me apaixonar por você?”. Pois é, até hoje essa frase ecoa nos meus ouvidos, e eu fico me perguntando: “Como você pode não se apaixonar mais por mim?” Respostas em silêncio e um caminho limpo, lembrando do amor que eu amei, e não esse desconhecido que mal olha nos meus olhos ao me ver pela rua. Sim, me apaixonei por um você cheio de mistérios, cheio de amor, mas não sei aonde aquele cara se escondeu e para ser sincera não estou afim de procurar, não mais.

- Jana Escremin

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