Existe
um louco em cada canto do mundo. Há quem fale demais, há quem fale de
menos. Loucos por comida, bebida, música, dança, livros, política e etc.
Consultando para serem consultados, gosto de pensar assim. Na verdade
eu sempre quis saber de coisas aleatórias, coisas fúteis e
interessantes, não importava. Quis consumir o mundo para poder falar
dele para alguém e chamo isso de “Síndrome de Mafalda”.
Sabe aquela garotinha baixinha que questiona o mundo nos quadrinhos?
Pois é, eu adoro ela e os seus pensamentos loucos e contestadores. Não
sou tão contestadora e admito ter raiva de quem é. Não sei para que
tanto burburinho quando a solução é mais simples do que o famoso 2 + 2.
No entanto, os últimos dias vem mudando meu jeito simples de pensar.
Sim, o mundo me engoliu e não está fácil. Pela primeira vez tudo o que
busquei é pouco. Sinto como se precisasse saber mais, mais, mais e mais.
Sou contra a regra do destino e fico à vontade sem estar. Todos os dias
o meu corpo sai do chão enquanto ouço aquelas palavras, aquele jeito
novo de ver o mundo. O meu pensamento, que já dispersa facilmente,
escapa pela tangente e está admirando e lutando para falar, questionar e
aparecer, mas eu sumo no mapa por não saber nada e achar isso um nada
tão gigante e grosseiro que o meu coração quase para. Logo eu que achava
tão legal passar da água para o vinho, mudar de opinião quando quiser e
seguir rumos diferentes quando for preciso, começo a admirar quem opta
pelo traço reto e fixo. O traço de quem realmente se envolve, se
interessa. Sim, eu admito que não sou a pessoa mais envolvente do mundo.
As coisas me atraem, eu atraio as coisas, mas a profundidade delas não
me interessa. Não sei se foram os anos, mas as coisas começaram a mudar.
A mala que carrego está crescendo, mudando e sinto as placas do meu
mundo se afastando. Sem algum motivo aparente me comporto como uma
criança desprotegida. Quero saber do mundo, mas acho que o mundo não
quer saber de mim. As pessoas envolvem os meus dias com conselhos e eu
percebo a maldade que existe em mim. O susto é grande, mas infelizmente o
mundo me engoliu. Ainda vivo com os antigos pensamentos e caminho por
milhares de lugares, só que agora começo a ficar crítica comigo e com o
mundo. Parei de relevar certos absurdos, e por não estar acostumada com
essa nova maneira de enxergar a vida, o meu consciente castiga o meu
coração. Quem foi educada como eu, traz o peso de deixar o mundo
cometendo os seus erros e relevar. Existe um mundo louco com pessoas
loucas e me encaixar nele é tarefa difícil. Tenho que ser eu, tenho que
ser daquele, tenho que entender, compreender, viver. Tenho muitos verbos
para conjugar e tudo em menos de 24 horas. Santa inocência! Quem
consegue carregar a mesma pessoa sem agregar nada para si? Sou esponja
da pior espécie. Sugo tudo para dentro de mim e quando vou ver já peguei
a mania do outro. Não por querer, mas por querer ser tão próxima que
preciso ter algo deles comigo. O mundo me enganou e não me preparou para
suas armadilhas. Sou esperta até que me provem o contrário, e não ser
está fora do meu vocabulário.
- Jana Escremin
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