Eu
nunca consegui guardar um desabafo, uma tristeza ou decepção. Sou assim
até com o que me faz bem. Gosto de falar, compartilhar! Porém nos
últimos dias alguma coisa mudou. Falei tanto do meu orgulho para engolir
ele no absoluto silêncio. Dei tantos conselhos sobre o que fazer quando
o coração se quebra, mas esqueci de seguir cada um deles. Chorei no
quarto, sem ninguém para falar, orientar ou questionar.
O choro sabia o motivo, apenas não o entendia. A esperança, o orgulho, a
decepção e a luta eram sentimentos grandes e cheios de si, mas
infelizmente foram quebrados. Cadê o meu velho outdoor? Onde estão as
pessoas para desabafar e consolar o meu coração traído? Logo eu, que
nunca soube guardar nada, agora convivo com a vergonha de não ser a moça
forte e equilibrada. Algo me incomoda e sustenta. Os dias passam e o
meu desejo é que a vergonha também passe. Fiquei por anos recusando
convites e agora todo o discurso se tornou mais um. A primeira
oportunidade foi embora e eu aceitei o único conselho que cabia dentro
do peito: se você aceitou, você deve esquecer. E agora é todo dia assim.
Dois minutos sozinha bastam para o meu coração traído imaginar que nada
mudou. Reeduco a cabeça para continuar, e fico ocupando a vaga de não
ser tão especial quanto pensava. Pela primeira vez finjo, e engulo no
seco todo o incômodo e o pesadelo de reviver essa história. Vou
lembrando das situações em que ouvi e aconselhei. Quantas pessoas já se
doaram e foram enganadas? Quantas delas insistiram, e quantas
conseguiram? Talvez o que me falta é persistência. Sempre fui a moça dos
perdões, mas sempre deixei para trás qualquer ferida. Desta vez foi
diferente, houve perdão e eu continuei por aqui. Esqueço a dor para
continuar em silêncio e vou lutando para me tornar o que pensava que
era. As vezes o que falta é um choque da realidade para que tudo mude,
inclusive eu.
- Jana Escremin
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