Vejo
os seus olhos tão distantes, tão dispersos, tão fora de mim. Esses
olhos que apertam quando você solta aquela gargalhada. Tais olhos que no
meio da escuridão eu ainda conseguia enxergar e eram tão bonitos de
ver. Quando o ápice do nosso amor acontecia, você os fechava e eu podia
passar o dia inteiro olhando aquela cena. Seus olhos não eram daqueles
que falavam, até porque eu nunca soube o que
diziam, mas eles olhavam, observavam e às vezes escapavam pelas
laterais, me fazendo mostrar a cara de “hey, estou vendo você fazer
isso”. Seus olhos eram diferentes e eu gostava de olhá-los. Muitas vezes
você perguntava por que eu estava lhe encarando, mas era só eu olhando
para os pares castanhos que você carrega com tamanha seriedade. Ah, a
tal da seriedade me afugentava. Enquanto você era o homem dos olhares,
eu era a moça dos sorrisos. Você transmitia o mundo por um olhar. Quando
eu dizia algo suspeito, você os comprimia e com um sorriso torto
alegava que não era nada bobo. Talvez seja esse o motivo da saudade que
sinto. Você olhava tudo e todos, mas o bonito ainda estava por vir.
Quando os seus olhos se fechavam, eu sorria. Lembro que você tem uma
dancinha engraçada que me deixava toda apaixonada. Era algo com os
braços e as mãos próximos ao peito, cabeça e corpo mexendo de um lado
para o outro, olhos cerrados e a voz propositalmente mais grossa para
que a música e você pudessem combinar na melodia. Seus olhos me
fascinavam nesse momento. Era o seu momento, era o prazer de poder não
olhar e só cantar ou tocar. Mais perfeito que esse momento era o seu
olhar para uma criança. Bobo, desajeitado e disperso. Eu sorria, você
olhava, sempre foi assim. Que mulher não se apaixonaria por seu olhar?
Quando você estava longe de mim, eu tinha o costume de lhe olhar e se
você me olhasse de volta já enviava uma piscadela e um beijo, que eu
retribuía sorrindo, claro. Quantas saudades os seus olhos me dão.
Quantas lembranças os seus olhos me trazem. Tenho os meus momentos
preferidos que talvez você nunca tenha reparado. E um deles era quando
você acendia um cigarro, cerrava apenas um dos olhos e dava a primeira
tragada com olhar de desconfiado, mas sábio. Fosse encostado na sacada
ou parado em uma calçada qualquer, o seu olhar ao acender um cigarro me
fazia querer pular no seu colo e sussurrar coisas que ninguém jamais
ouviria, só você. Ontem os seus olhos me trouxeram a primeira tristeza,
pois eu olhei disfarçadamente para eles e vi você olhando. Mas era um
olhar pesado, não era amor. Não era saudade, não era admiração, não era
você me despindo com eles como já havia me acostumado. Eram só aqueles
olhos distantes, vagos, sem pretensão de futuro. Do dia para a noite eu
não era mais o encanto dos pares de olhos mais loucos que conheci. Meu
sorriso era o seu olhar, e agora uma lágrima ocupa tal lugar. Eram dos
seus olhos e do poder que eles exerciam sobre mim que sentirei mais
saudades, agora eu sei.
- Jana Escremin
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