sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Mais um





Mais um. Um que passou tão rápido quanto a minha vontade. Um que repetiu a cena, o discurso, ou melhor: Repetiu a falta do discurso. Foi mais um que por não encontrar sentimento pensou que não existisse. Mais um confundindo prevenção com frieza ou liberdade. Lá se vai mais uma história sem explicação ou reviravoltas no final. Lá se foi mais um igual a todos os outros. Eles chegam, enchem a boca para falar e esquecem que eu guardo todos os detalhes, palavras e gestos. Eles somem deixando perguntas, dor e a certeza de que nada é como eu pensava. São muitos e eles surgem de todos os lados. São diferentes na conquista, mas iguais ao destruírem meu coração. Minha estante está cheia deles. Suas histórias parecidas, as feridas e as palavras não ditas. Na minha estante existe um pote vazio de justificativas. Não os nomeio, apenas cito como “mais um, mais um e mais um”. Evito me relacionar com antigas histórias. Eles se movimentam, fazem de tudo para serem lembrados e quando vou ver estou correndo em círculos. Vivo preenchendo uma estante que nem gostaria de ter. Todos eles dizem que sou amigável, não amável. Lá se foi mais um com seu jeito frio e calculista. Mais um que escolhi para continuar a saga do silêncio. Muitos personagens, poucas palavras. Essas palavras ficam comigo e talvez eu nunca mais consiga me desligar delas. Esse foi mais um que passou rápido, breve e fez ventania. Mais um sem educação sentimental. Mais um que tornou a calmaria em tempestade. Mais um que me deixou a ver navios. Mais um que se esqueceu de escrever uma carta de despedida. Lá se foi mais um para a estante dos desapegados.

- Jana Escremin

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