Eu tenho
orgulho do que me tornei. Sinto uma imensa felicidade ao saber que cheguei até
aqui com esperança e muita fé. Eu poderia ser qualquer patricinha acomodada e
continuar vivendo sob o teto da minha mãe (até porque é uma das coisas que mais
me dão saudades), poderia ter feito qualquer faculdade e ter um emprego meia
boca, ajeitado por alguém próximo. Eu poderia viver à custa de um dinheiro que
não me dá o mesmo orgulho ao dizer que é meu. Poderia acordar tarde e passar o
dia em frente ao computador ou da televisão. Quem sabe até ficar me lamentando
e fofocando os casos banais de pessoas fúteis espalhadas pela minha cidade e
pelo mundo todo. Eu poderia ser essa pessoa fútil. Existem opções, e eu poderia
escolher entre dar orgulho ou ser mais uma na multidão.
Tive tantas
escolhas na vida, e algumas posso dizer que escolhi muito mal, mas outras foram
um alívio para a mente. Eu poderia ter me tornado uma dessas meninas bonitas,
que usam os mesmos modelos de roupas e saem aos bandos à procura de homens mais
velhos. Mas não fiz isso. Pensei até em viver uma vida quase perfeita. Viver de
um salário ruim, de um emprego sem futuro. Até mesmo
desfilar com algum garoto e fingir uma paixão qualquer. Ele poderia olhar para outras garotas na minha
frente ou usar drogas. Talvez não precisasse nem fingir, eu poderia amar tanto alguém ao ponto de me anular. Mais nunca fiz isso.
Eu poderia fingir a minha existência! Fingir ser boa
moça, e não ser. Fingir ter dinheiro, e não ter. Fingir estar feliz e nunca
saber qual é a sensação. A vida me deu tudo, e eu poderia ter muito mais se
talvez o meu pai, que era uma pessoa rica, estivesse vivo. Não sinto saudade do
seu dinheiro, não sinto saudade da acomodação. Essas coisas minha mãe sempre
ajudou, sempre batalhou. Sinto saudade do que vivi e ele não conseguiu ver ou
sentir. Sinto raiva de tudo o que podíamos ter compartilhado e que nunca será
possível. Até mesmo dos momentos que não consegui viver, como o meu casamento.
Ele vai fazer mais falta nessas horas do que o dinheiro que ele colocava dentro de
casa.
Poderia ter
me tornado uma drogada, afinal com tantos amigos seguindo esse caminho, seria
mais fácil. Deveria ter experimentado apunhalar alguém pelas costas e saber o
que é ser má, ao invés de gritar como a minha vida é. Eu poderia esconder todos
os detalhes e fingir ser uma santa. Parece tão fácil viver assim, são milhares de garotas que insistem em carregar o fardo da beatificação. Mais comigo tudo é diferente. Eu grito, eu
faço, eu falo, eu caminho.
Poderia depender de caronas para conseguir trabalhar, sair, estudar. Nunca
precisei. Andei tanto que posso atravessar a cidade de São Paulo com um sorriso
no rosto. Poucos conseguiriam. Pensando bem, eu deveria ser tanta coisa, mais optei por ser o
que me deixa a vontade comigo mesmo. Nunca precisei pedir favores, eles sempre aconteceram. Ajo de acordo com a lei do "o que você dá, você recebe em troco". Talvez é por isso que recebo tantas coisas maravilhosas.
Mas eu poderia
fazer minha mãe chorar de desgosto por ter uma filha fora da trilha. Ao contrário de tudo isso, eu optei por
ser louca sim, mais aceitar minhas consequências. Fico triste. Fico feliz. Não coloco
limite no sentimento. Não escondo as conquistas e talvez por isso tanta gente
não me entende. Fiz muitas coisas e não escondo, mesmo quando me julgam. Sou
amiga, inimiga, chata, legal, antipática, simpática. Sou tudo o que um dia
quis, mais principalmente sou o que você merece de mim. Mesmo com tantas opções,
eu nunca tive a intenção de machucar alguém. Criei uma vida cheia de sonhos e expectativas.
Muitas foram por água abaixo, mais em compensação o peito ficou feito aço.
Portanto, eu
nunca precisei de ninguém para alcançar meus sonhos, nunca desanimei ou tentei
passar a perna em alguém. Já faz algum tempo que decidi crescer e me tornar
adulta. Com dezenove anos é preciso coragem para fazer as malas, arrumar
qualquer emprego e pagar suas contas. Pois é, para você que pensou que eu sou
bancada pela minha mãe, tenho péssimas notícias. Se acabar o dinheiro, então
foda-se. Não sou filha de pai ou mãe
riquinhos e aprendi na marra o que é REALMENTE estudar fora de casa.
Tenho uma puta felicidade ao dizer todas essas palavras.
Nunca vou ouvir que o que eu sou hoje foi sorte, contatos ou qualquer outra babaquice. Me desculpem,
mais eu optei por ser alguém na vida! Não trabalho para parente, amigo
ou algo similar. Ao contrário, eu fiz novos amigos no trabalho. Encontrei
forças e rodei por uma cidade desconhecida. Fiz das tripas, coração!
Aprendi que existem pessoas para ajudar, pisar e enganar. Esqueço as duas
últimas e só me lembro do que fez bem ao coração.
Com tantas histórias e ”perregues”, me sinto feliz ao olhar
o meu tamanho com apenas 21 anos. Poucos sabem qual a sensação do sonho
realizado, da paciência exercida e da força em largar tudo o que não se viver
sem. E por aí eu vou trilhando meu caminho, vendo os olhares dessas
pessoas que eu poderia ser, mais escolhi não chegar perto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário