quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Amor não combina com madrugada

Era de madrugada quando seu celular tocou, ela olhou com os olhos ainda cerrados e não podia acreditar que era ele. Uma hora dessas era quase impossível depois da separação ele ainda ter a capacidade de telefonar. Mesmo assim a vontade de atender falou mais alto dentro do seu peito. Ela falou o típico "alô" com uma voz cansada, do outro lado da linha os barulhos eram quase insuportáveis. Tudo o que queria era não ter atendido o telefone naquela noite. Sem pensar muito foi escutando o que ele do outro lado da linha dizia. Eram absurdos misturados com declarações. Ela só queria entender porque é tão dolorido não poder estar com quem se quer. Conseguiu entender que ele estava em uma festa, fez amizades com garotos que antes ele odiava pois tinham ligação com ela. Ele tentava provar algo para ela com esse telefonema, mas ela só entendeu que sua decisão foi certa. 

Pediu pra que ele a deixasse dormir e de preferência saísse da sua vida. Ela implorou por paz, queria descanso das brigas, das mentiras e principalmente das provocações. Ele pediu uma reconciliação, ela apenas ignorou e fingiu não ouvir essas lamentações. Como ele poderia pedir algo assim estando em uma festa dias após o término. Sua prova de amor é a mais estranha que ela já conheceu. Ele só pode amar maltratando e ela ama amando, simples e correto. A madrugada começou a ficar pesada, as olheiras e os quilos perdidos estavam sendo justificados naquele telefonema, era uma depressão ter que ouvir lamentos de alguém que não se lamenta por nada. Tudo mentira.


Desligou o celular e levantou com os olhos cheios de água. Ela no meio da escuridão do quarto pensava em mil coisas de uma vez só, e todos os pensamentos giravam em torno dele. Era ele o seu inferno. Era ele que não sabia o que fazer da vida e decidiu deixá-la como ele é, insegura o suficiente para não acreditar nos seus sonhos. Assim, ela foi indo para a cozinha e tomou um copo de água que esfriou sua cabeça. Porém o sono já tinha sido roubado. Ela queria entender porque era possível sentir todos os sentimentos do mundo de uma vez só e ainda estar viva para contar no dia seguinte a situação que aconteceu. Pensou em tudo o que poderia lhe dar força e fechando os olhos foi acalmando-se e tirando aquele peso das costas. O jeito era recomeçar e para isso seu inferno deveria ficar a milhas de distância. 

Foi assim que ela decidiu fazer as malas e sem levar as mentiras para viver, foi para longe e encontrou outras oportunidades. Eram sempre pequenas aberturas que ela espiava e pensava se ali dentro estava a felicidade, sempre certificando-se que ele não estaria por perto em nenhuma das suas novas conquistas. A busca pelo amor da sua vida agora não é tão importante, pois amores fazem ligações na madrugada e ela não queria mais atender aos chamados do que ele dizia ser amor. Agora o amor da sua vida é ela. Egoísta e ainda insegura, soube que tudo ia dar certo a partir do momento em que colocou as roupas na mala e mudou o celular. Agora era tudo novo, de novo.

Um comentário:

Jéssica Targa disse...

adoro seus textos. mas esse foi, sem dúvida, o que eu achei mais emocionante/bonito.. ahaha

parabéns!