segunda-feira, 21 de junho de 2010

Pesadelos

Ela estava dirigindo indo de encontro com o nada. Na verdade ela sempre andou para o nada, sempre quis não achar um caminho, queria encontrá-lo sem querer. Odeia rotas e odeia quem a persegue nos caminhos da vida. Mas ela odeia tudo da boca para fora. Enquanto dirigia escutava uma música qualquer que o locutor da rádio disse que 'era uma homenagem para os apaixonados'. Não soube responder se ela se identificava com a música, ou se apenas algum dia havia vivenciado toda aquela confusão que a música transmitia. 

Após várias voltas em seu carro percebe que não há ninguém do seu lado. Suas amigas estão namorando ou azarando alguns paqueras, e isso não combina com ela. Ela quer alguém para sentar no passageiro. Na verdade ela quer ser o passageiro de alguém. Foi mal acostumada a viver assim. Porém enquanto descia a avenida lotada ela se sentia sozinha. E foi quando ela olhou para o sentido contrário ao que estava seguindo e o passado desfilou olhando para ela. Seu coração dispara, e o motivo não é apenas o passado, mais também do que o passado está acompanhado. É o presente, presente que o futuro deu para este passado.


 Ela continua dirigindo, sem piscar ela olha para o interior daquele carro que já vivenciou tantas histórias com o seu nome. Histórias de amor. Em segundos ela sente o filme passando em sua cabeça. Brigas, amores, risadas, comidas. Tudo o que aquele carro viveu está queimando dentro dela. Se o motor tivesse vida, ele responderia afogando-se em lembranças quando ela passou por ele.




Quando acorda do pesadelo, ela continua pensando no que aquele carro agora vê. Outra garota, sentada ao lado daquele que ela jurou amor. Outro cheiro que não tem nada a ver com o seu. Outra voz, que não se parece com a dela. E ela se pergunta, será que a nova garota é melhor? Sem pensar muito, os pensamentos se vão em questão de segundos, e ela sente um aperto no peito ao ver desfilar um casal. Na verdade dois casais. Ela e a solidão, e ele com sua nova companhia. Ali existem duas histórias, e se histórias vencessem campeonatos com certeza a dela ganharia da dele.

O seu coração era feito de manteiga. O calor a esquentava e a imagem dos dois andando de carro pelas ruas da sua cidade foram deixando ela triste, mais não na depressão de sempre. Apenas triste. Foi quando a garota o beijou. Ele que era dela. Ele que não merecia nada do que estava passando. Nesse exato minuto ela tomou uma iniciativa: 

Acordou. O sonho ficou pesado demais para a sua saudade. A única forma de matar a saudade do passado era sonhando, mas sonhar que ele se perdeu era demais para ela. No entanto, acordar era agoniante quando não se tem quem abraçar como costumava ter. Dormir sozinha virou um hábito ruim, que ela não quer ter. São quatro da manhã, ela volta a dormir, apenas quis interromper cenas que estava acostumada a vivenciar,  mas afinal se é para matar uma saudade que não seja das lembranças ruins.

4 comentários:

Amanda Forti disse...

Nossa que LINDO *-*

Pima disse...

mto bem escrito. parabéns.

Ananda Mendonça disse...

Ual! Todos os textos que voce escreve são lindos, mas esse está profundamente bonito. Me identifiquei no sonho, criei toda a cena aqui, e me vi dentro desse carro! Amei! Beijos.

LH. disse...

Muito foda jana ! nem preciso te elogia, mando muito bem !