Mandaram eu aproveitar a vida, e lá fui eu. Aí
mandaram eu parar de ter medo do que os outros poderiam pensar sobre
quem eu sou, aceitei. Depois mandaram eu ir descobrir o mundo, fui. Logo
em seguida mandaram parar de sofrer por qualquer homem
que dizia uma ou duas palavras de carinho, eu parei. Me mandaram focar
no trabalho porque meu futuro era certo. Fiz as malas, joguei fora fotos
e sentimentos. Derreti meu coração, depois congelei de novo. Oscilei
durante muito tempo. Caminhei pelo passado, corri no meu presente e
espiei meu futuro. Fiquei inquieta para o mundo e as suas surpresas.
Acabaram-se as ordens e a última coisa que eu ouvi foi para aprender a
viver com as minhas regras. Mas aí eu quebrei todas elas. Espantei todos
os meus fantasmas com uma felicidade que não cabe dentro de mim. Vivo a
melhor fase da minha vida, mas falta alguma coisa. Na verdade sempre
irá faltar, sou insaciável. Enfiei minha cabeça em algumas loucuras,
deixei que o mundo fluísse pelas minhas veias e decidi acampar neste
lugar seguro de dor e de amores imperfeitos. Quero muito me apaixonar,
mas não quero estar sozinha nas próximas histórias. Amar sozinha é
dolorido demais para o mundo. Ninguém tolera minha dor transformada em
alegria. Ninguém aguenta essa mania de transformar casos sem finais
felizes em comédia de balada. As pessoas não mandam mais em mim, não
adianta mais. Estou cercada de conceitos e regras, só que elas foram
feitas por mim e só eu posso decidir se vou ou não obedecê-las. Fiquei
muito tempo sozinha para perceber que é sozinho que se aprende, e que
mesmo que eu continue errando, as pessoas se identificam com meu errado
sendo certo. Estou vivendo sem ordens, sem freio e só desejo que quando
tudo isso parar eu possa ter um par de olhos para fixar e dizer que tudo
está bem, e que mais uma dose não faz mal para ninguém.
- Jana Escremin
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