Não tenho boca para nada. Seja para reclamar
ou me declarar. Nada sai, nenhuma palavrinha. A oportunidade bate na
porta e eu a ignoro por ter um medo absurdo do 'depois'. Esse é um dos
sintomas quando meu coração burro resolve se envolver em
uma história sem início. Não sei falar, não sei agir, não sei ao menos
ser sincera comigo. Olho para as palavras, para os jeitos, os sorrisos e
travo. Meu corpo congela, minha fala foge para muito longe. O único
desabafo é com as pessoas que não aguentam mais esse lero lero. Algumas
dizem para ir, correr e seja o que Deus quiser. As outras dizem para
fugir, ter cuidado e seja o que Deus quiser. Nessas horas eu não queria
estar armada de passados. Nessa hora eu só queria ser pura e inocente
para encarar os fatos, oportunidades e ir além desse quarto trancado.
Meus amigos perguntam onde está aquela mulher e questionam que se isso
for mesmo amor eu não deveria agir assim. Amor é agressivo, amor é
dilacerante, amar dói. O que eles não entendem é que em mim o amor
trava. Não anda, não progride, não prevalece. Meu medo é tão grande que
eu mal posso dizer algumas palavras bonitas. Meu medo é tão egoísta que
não dá espaço para minhas vontades. O tempo está passando, a vida corre e
aqui dentro está cheio de borboletas. Tudo o que preciso é de uma
intervenção divina, mas quem vai interceder por essa moça confusa? Sabe o
que quer e não aproveita, tem lógica? Nenhuma. Tem foco, tem atitude
mas nunca soube usá-las. Hora errada, homem errado. Nunca fui boa em
acertar com os ponteiros. É só curva de rio, só fuga, só o sentimento e
eu. Minha boca está aqui, meus sentimentos estão prontos, mas cadê a
coragem? O medo do 'não' percorre minhas veias, e eu não estou pronta
para essa aventura sem segurança. Dizem que esse é o sentido da vida: Se
atirar sem ao menos saber o que está acontecendo. Eu me atiro em tudo,
porém no amor as coisas são mais diferentes. Como posso me arriscar com
esse bipolarismo? Aqui é tudo muito movimentado, e segurar o freio é uma
preocupação e preocaução contra o caos. Quero soltar, quero ter boca
para dizer tudo o que está aqui dentro, quero um momento de loucura,
quero um minuto de segurança. Quero muita coisa mas não sei pedir
nenhuma delas. Escrevo porque é a única coisa que sobrou no meio dessa
bagunça. Ninguém tem certeza de nada. Eu não tenho de você, e você não
tem de mim. Quem garante que isso pode acontecer? Quem disse que isso
deve acontecer? Não dá para ser inteira sem me quebrar toda vez que meu
coração sinaliza uma paixão. Quero queimar, mas não estou pronta para as
feridas. Alguém traz aquele pouquinho de coragem e um manual de
instruções para sair dessa agonia de querer e não saber como ter?
- Jana Escremin
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