Eu gosto de você como quem gosta de uma roupa
velha. Não entendeu? Pois então... Eu insisto em querer combinar você
com as novas roupas e não entendo porque não dá certo. Me viro e te jogo
na gaveta para esquecer que você existe, mas basta um convite para sair
que quero te mostrar ao mundo. Uma vez me disseram que roupa velha não
dá para guardar, mas eu fico insistindo. Lavo, passo e guardo. Uso quando
não quero encarar a roupa nova que já me arrependi de comprar no mês
passado. É inacreditável essa mania que as pessoas tem de querer
reciclar o que já foi! Aí, depois de tanto lhe usar, descobri que estava
na hora da doação. Afinal, eu era uma grande recicladora, mas é preciso
espaço para guardar tanta coisa velha, e eu não tenho mais esse espaço,
não tenho mais esse tempo. Gosto de você como quem olha e diz: “É
linda, mais hoje não dá”. Aprendi aos poucos a ir me desapegando das
peças que nunca mais eu deveria utilizar. O mundo em que vivemos não
suporta mais as roupas antigas. Meu corpo implorou por modelos modernos,
e é assim que é. Roupa batida não dá boa impressão, assim como
sentimentos passados não trazem conforto ao nosso coração. Para ambos os
casos sempre vai existir um furo embaixo do braço, um vazio para
lembrar que aquela roupa não dá mais. Por isso o melhor é jogar fora,
dar as peças para alguém que precisa. Tanta gente no mundo querendo algo
novo e você escondendo o jogo. Não é justo, nem com os outros e muito
menos com você. Mas olha, eu juro que ainda gosto de você, porém eu
também juro que não quero mais vesti-lo. Estou fazendo bazar dos meus
sentimentos, coloquei você em liquidação, desculpa.
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