segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Roupa velha

Eu gosto de você como quem gosta de uma roupa velha. Não entendeu? Pois então... Eu insisto em querer combinar você com as novas roupas e não entendo porque não dá certo. Me viro e te jogo na gaveta para esquecer que você existe, mas basta um convite para sair que quero te mostrar ao mundo. Uma vez me disseram que roupa velha não dá para guardar, mas eu fico insistindo. Lavo, passo e guardo. Uso quando não quero encarar a roupa nova que já me arrependi de comprar no mês passado. É inacreditável essa mania que as pessoas tem de querer reciclar o que já foi! Aí, depois de tanto lhe usar, descobri que estava na hora da doação. Afinal, eu era uma grande recicladora, mas é preciso espaço para guardar tanta coisa velha, e eu não tenho mais esse espaço, não tenho mais esse tempo. Gosto de você como quem olha e diz: “É linda, mais hoje não dá”. Aprendi aos poucos a ir me desapegando das peças que nunca mais eu deveria utilizar. O mundo em que vivemos não suporta mais as roupas antigas. Meu corpo implorou por modelos modernos, e é assim que é. Roupa batida não dá boa impressão, assim como sentimentos passados não trazem conforto ao nosso coração. Para ambos os casos sempre vai existir um furo embaixo do braço, um vazio para lembrar que aquela roupa não dá mais. Por isso o melhor é jogar fora, dar as peças para alguém que precisa. Tanta gente no mundo querendo algo novo e você escondendo o jogo. Não é justo, nem com os outros e muito menos com você. Mas olha, eu juro que ainda gosto de você, porém eu também juro que não quero mais vesti-lo. Estou fazendo bazar dos meus sentimentos, coloquei você em liquidação, desculpa.

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