segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A fotografia

Ontem resolvi arrumar as minhas coisas. Estava tudo uma bagunça. Minha mãe avisou que sou mocinha, moro sozinha e não poderia ter o quarto igual de uma adolescente. Então sentei e comecei a separar o que era lixo, mas aí muitas lembranças surgiram. Encontrei três livros que escrevi quando tinha apenas oito anos, passei uma hora lendo e dei muita risada sozinha no quarto. Quando estava terminando de limpar encontrei três fotografias. Fazia muito tempo que não olhava para aquele rosto sorrindo para mim. Foi inevitável não sorrir de volta. Era carnaval, um fotógrafo surgiu ao nosso lado e nem percebemos. Estávamos abraçados e sorrindo, olhando para a felicidade dos solteiros. Um casal sorrindo no carnaval, parecia impossível, mas nós estávamos envolvidos pelo amor. Um desconhecido que conheci tão bem e agora não machuca mais. Quantas histórias passaram pela a minha cabeça. Quantas perguntas surgiram no silêncio do meu quarto. Aquela fotografia representou o meu relacionamento mais feliz e apaixonado, porém foi o mais trágico que tive. Aquela fotografia mostrava uma garota que não conheço mais. Eram dois desconhecidos. Muitos jogariam a fotografia no lixo, mas eu a guardei. Não por causa do sentimento, mas por causa da história. Pensei por alguns minutos o que aconteceria se hoje nós nos encontrássemos. Qual seria a reação e sensação? Como poderíamos olhar nos olhos sem sentir nada? Eu sempre sentia alguma coisa! Sempre doía no fundo da alma a indiferença dele e agora não dói mais. Porque sou indiferente também. Todo carnaval nós nos encontramos, olhamos e não nos movemos. Todo carnaval a nossa música toca e pela primeira vez vou sorrir ao ouvi-la, assim como sorri ao ver seu rosto na fotografia. Vou sorrir porque não amo, não sofro, não desejo. O homem mais lindo que passou pela minha vida e transformou ela em uma montanha russa agora vive em fotografias. Deixarei que mais um carnaval passe sem que palavras sejam trocadas. Passaremos ao lado um do outro e vou me lembrar da fotografia, das histórias e da sensação ao te ver. Mas quando a sua beleza escapar da minha visão eu estarei intacta pela primeira vez, sem sofrer por termos sido tão conhecidos.

- Jana Escremin

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