Ontem resolvi arrumar as minhas coisas. Estava
tudo uma bagunça. Minha mãe avisou que sou mocinha, moro sozinha e não
poderia ter o quarto igual de uma adolescente. Então sentei e comecei a
separar o que era lixo, mas aí muitas lembranças surgiram.
Encontrei três livros que escrevi quando tinha apenas oito anos, passei
uma hora lendo e dei muita risada sozinha no quarto. Quando estava
terminando de limpar encontrei três fotografias. Fazia muito tempo que
não olhava para aquele rosto sorrindo para mim. Foi inevitável não
sorrir de volta. Era carnaval, um fotógrafo surgiu ao nosso lado e nem
percebemos. Estávamos abraçados e sorrindo, olhando para a felicidade
dos solteiros. Um casal sorrindo no carnaval, parecia impossível, mas
nós estávamos envolvidos pelo amor. Um desconhecido que conheci tão bem e
agora não machuca mais. Quantas histórias passaram pela a minha cabeça.
Quantas perguntas surgiram no silêncio do meu quarto. Aquela fotografia
representou o meu relacionamento mais feliz e apaixonado, porém foi o
mais trágico que tive. Aquela fotografia mostrava uma garota que não
conheço mais. Eram dois desconhecidos. Muitos jogariam a fotografia no
lixo, mas eu a guardei. Não por causa do sentimento, mas por causa da
história. Pensei por alguns minutos o que aconteceria se hoje nós nos
encontrássemos. Qual seria a reação e sensação? Como poderíamos olhar
nos olhos sem sentir nada? Eu sempre sentia alguma coisa! Sempre doía no
fundo da alma a indiferença dele e agora não dói mais. Porque sou
indiferente também. Todo carnaval nós nos encontramos, olhamos e não nos
movemos. Todo carnaval a nossa música toca e pela primeira vez vou
sorrir ao ouvi-la, assim como sorri ao ver seu rosto na fotografia. Vou
sorrir porque não amo, não sofro, não desejo. O homem mais lindo que
passou pela minha vida e transformou ela em uma montanha russa agora
vive em fotografias. Deixarei que mais um carnaval passe sem que
palavras sejam trocadas. Passaremos ao lado um do outro e vou me lembrar
da fotografia, das histórias e da sensação ao te ver. Mas quando a sua
beleza escapar da minha visão eu estarei intacta pela primeira vez, sem
sofrer por termos sido tão conhecidos.
- Jana Escremin
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