Eu só não queria chorar. Chorar é quase uma
fraqueza e não sou dessas. Eu não queria chorar porque disseram que isso
é sinal de quem não consegue ir além, mas eu consigo. Consigo chorando e
com os olhos inchados. Consigo porque se eu não chorar
e continuar seguindo talvez não seja a mesma nunca mais. Sei que certas
situações irão acontecer mais do que o normal. Pessoas vão, pessoas
ficam. Mas a dor daquelas que se vão sem ao menos ter a chance de se
despedir é o que causam as lágrimas. Eu não quero chorar, não quero
sentir e tudo o que sei é que faço isso como a mesma maestria de uma
orquestra. Tudo seria mais prático se pudéssemos apenas bater, gritar,
reclamar e aliviar. Mas o que fazer quando o alívio só vai quando sujo o
rosto de água salgada? Isso de vivenciar a dor dos outros um dia vai me
colocar em confusão. Conter lágrimas e convertê-las em atitudes parece
simples para algumas pessoas, mas para mim nunca foi. Sou a chorona do
país e não seguro as pontas quando sinto essas dores. Eu só queria ser
um pouco mais dura. Toda vez que penso que mudei, a vida mostra o quão
enganada estou. Repito: Não é fraqueza, é só um exagero de sentimentos.
Eu sinto muito. Sinto por mim, pelo o outro, pelo vento, por cada pedaço
de gente que chega e se apresenta. Ontem ouvi que a vida é feita de
injustiças e que são esses momentos que nos provam quem somos e com quem
lidamos. As pessoas tem razão. Não dá para saber o limite do outro sem
testá-lo. Não dá para pedir segurança de quem não é seguro. Implorar
nunca fez ninguém ficar. Somente ficam aqueles que estão dispostos a se
doerem. Eu sempre "fiquei" na vida. Fiquei na vida das pessoas, fiquei
com sentimentos antigos, fiquei com lágrimas, fiquei com a injustiça no
coração, fiquei calada. Acho que no fundo ficar assim é a consequência
de uma vida pautada em ser sentimental. Nasci assim, vou morrer assim.
Posso ter ficado mais esperta com a vida e suas armadilhas, mas eu nunca
vou deixar de chorar quando for preciso. É isso que sinto quando tudo o
que posso fazer é nada. É o 'nada' que consome, que derrete, que faz
arder. É o 'nada' que impulsiona, que traz à tona tudo o que ficou
escondido. Enfim, eu não queria chorar, mas talvez foi a melhor maneira
de aliviar, de entregar meu sentimento para esse 'nada'.
- Jana Escremin
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