A inocência nos condena e nos alimenta. Já fui
uma inocente e não fazia ideia do mundo como ele é ou pode ser. A
quebra da nossa pureza é tão marcante e eu me lembro das várias vezes em
que senti um pedaço dela se perdendo para o mundo. Traição,
términos, perdas, aquele “não” que nos silencia, uma brincadeira de
adulto. Não sou a única e muito menos a pessoa mais afetada no mundo
pela perda da inocência. Existem tantas maneiras de se perder e mesmo
que os meus motivos sejam fúteis perto de problemas tão maiores que eu,
sei que a minha inocência se foi com as coisas que eu mais preservava.
São as minhas histórias, minhas feridas, minhas alegrias, são os meus
momentos e que ninguém saberá como é vivenciá-los. Da mesma maneira que
eu não consigo descobrir onde está a ferida do outro. Posso conversar
sobre tudo e saber suas manias, mas nunca saberei do início ao fim da
sua vida e acho impossível fazê-lo. A minha inocência me condenou a um
futuro onde todo mundo pensa que sou aquela que sofre, chora e fica
pelos cantos remoendo sentimentos antigos. Mas eu não sou assim. Perdi a
conta de quanto tempo faz que sofri ou senti lágrimas no meu rosto.
Transformei os motivos de uma vida chata e sem graça em sorrisos e
piadas estranhas. Não sei não sorrir, e digo isso de verdade. É meu
hábito e suspeito que seja até genético, mas sorrir em qualquer
circunstância é o que prometi que faria até o final dos meus dias.
Quando algo tenta assustar posso me afastar ou pegá-lo para modificar
mais uma parte dessa inocência que nos guia. Ela quem cresce com a
gente, ela quem enfrenta e ela quem traz os arrependimentos. Mas são
esses arrependimentos que nos ensinam sobre certo ou errado. Para cada
inocência testada, eu escrevi um texto bonito e que hoje faz sentido
para mim. Até mesmo quando olho no espelho não enxergo mais aquela
pureza bonita, mas enxergo alguém que construiu outras formas de ser boa
em um mundo capaz de nos transformar em monstros. Ela me alimenta para
saber cada vez mais sobre o mundo e me condena por testá-la em suas
diversas manifestações. Quem não possui inocência é porque não soube o
que fazer dela. Se acham espertos demais para um mundo tão mesquinho,
pensam que aprenderam tudo e que ninguém mais é capaz de passá-los para
trás. O que ninguém entende é que inocência é um círculo vicioso.
Inocência é coisa sem fim, é aprendizado de todo dia, toda hora. Quem se
acha esperto acaba perdendo as vantagens em criar histórias de uma vida
realmente vivida. Ela é o que você é, fez, conquistou, perdeu, roubou.
Ela é a construção de cada passo que você já deu e por isso eu ainda a
valorizo. Ninguém consegue ser inocente em sua pureza pelo o resto da
vida, e ninguém consegue comprovar fatos ou pessoas sem tê-la em seu
coração.
- Jana Escremin
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