segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Esse não é para você, ou é

Paro de escrever, leio, apago. Começo tudo de novo. Não pode ser descarado assim, não pode ser confuso assim. Essa mania de escrever não nasceu pela vontade apenas de redigir palavras. Nasceu porque o sentimento não cabia no peito e ficou incontrolável se nenhuma palavra fosse publicada. Tento de novo. Escrevo mais uma vez linhas sobre os traços, os jeitos, os diálogos. Apago tudo de novo. É mais fácil escrever quando algo já acabou, não existem dúvidas ou medos. O que tinha que ser vivido já foi. Continuo procurando as palavras, penso em falar sobre o "quente e o frio" que vivo. Falo da minha vontade de ir e da vontade de deixar para lá. Lá se vão mais algumas palavras. Não sei disfarçar. O meu silêncio é denunciado por cada linha, então eu começo a pensar para escrever. Ninguém nunca sabe para quem é, mas tem sempre aquele pedacinho que encaixa, que dá forma e no final a gente espera só uma assinatura com o nome de quem inspirou tantas palavras. Deleto mais três textos que não estão prontos para o mundo. Ou será que eu não estou pronta para ele? Lá se vai um alfabeto inteiro para tentar descrever o que sinto sem entregar os pontos. Impossível ser discreta. Com sentimento, textos e palavras não existe o meio termo. Ou fica tudo no silêncio absoluto ou fica tudo em parágrafos platônicos. Dá nó aqui no peito e os dedos ficam emburrados porque se dedicaram tanto para nada. Apaguei diversos textos e guardei outros que não mereciam ser apagados, mas está difícil entrar em acordo. Penso em escrever sobre a mágoa que não tem a ver com quem me tira o sono, mas o texto fica fraco. Leio todas as palavras para discordar do sentimento. Não vou escrever de novo sobre olhares, toques, sorrisos, saudades, vontades, desejos e medos. Justo seria não escrever, mas o hábito é a minha prisão e eles precisam ser libertados. Pela última vez decido escrever sobre como ele não pode ter nenhuma palavra minha. Aí começa a tocar uma música que fala que "esqueceu de fingir que não está nem aí". Dou um sorriso. Maldito botão aleatório. É óbvio que um sinal do universo mostraria como sou idiota. Paro de lutar contra as palavras, escrevo para mim e torço para que ninguém descubra as provas desse sentimento novo. Decido escrever sobre qualquer coisa, mas me recuso a publicar minha condenação.

- Jana Escremin

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