Paro de escrever, leio, apago. Começo tudo de
novo. Não pode ser descarado assim, não pode ser confuso assim. Essa
mania de escrever não nasceu pela vontade apenas de redigir palavras.
Nasceu porque o sentimento não cabia no peito e ficou incontrolável
se nenhuma palavra fosse publicada. Tento de novo. Escrevo mais uma vez
linhas sobre os traços, os jeitos, os diálogos. Apago tudo de novo. É
mais fácil escrever quando algo já acabou, não existem dúvidas ou medos.
O que tinha que ser vivido já foi. Continuo procurando as palavras,
penso em falar sobre o "quente e o frio" que vivo. Falo da minha vontade
de ir e da vontade de deixar para lá. Lá se vão mais algumas palavras.
Não sei disfarçar. O meu silêncio é denunciado por cada linha, então eu
começo a pensar para escrever. Ninguém nunca sabe para quem é, mas tem
sempre aquele pedacinho que encaixa, que dá forma e no final a gente
espera só uma assinatura com o nome de quem inspirou tantas palavras.
Deleto mais três textos que não estão prontos para o mundo. Ou será que
eu não estou pronta para ele? Lá se vai um alfabeto inteiro para tentar
descrever o que sinto sem entregar os pontos. Impossível ser discreta.
Com sentimento, textos e palavras não existe o meio termo. Ou fica tudo
no silêncio absoluto ou fica tudo em parágrafos platônicos. Dá nó aqui
no peito e os dedos ficam emburrados porque se dedicaram tanto para
nada. Apaguei diversos textos e guardei outros que não mereciam ser
apagados, mas está difícil entrar em acordo. Penso em escrever sobre a
mágoa que não tem a ver com quem me tira o sono, mas o texto fica fraco.
Leio todas as palavras para discordar do sentimento. Não vou escrever
de novo sobre olhares, toques, sorrisos, saudades, vontades, desejos e
medos. Justo seria não escrever, mas o hábito é a minha prisão e eles
precisam ser libertados. Pela última vez decido escrever sobre como ele
não pode ter nenhuma palavra minha. Aí começa a tocar uma música que
fala que "esqueceu de fingir que não está nem aí". Dou um sorriso.
Maldito botão aleatório. É óbvio que um sinal do universo mostraria como
sou idiota. Paro de lutar contra as palavras, escrevo para mim e torço
para que ninguém descubra as provas desse sentimento novo. Decido
escrever sobre qualquer coisa, mas me recuso a publicar minha
condenação.
- Jana Escremin
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