Estava escuro mas eu ainda podia ver a cor dos
seus olhos. Eles se destacam mesmo quando falta cor no ambiente.
Encarei esses dois brilhantes e você me pediu para parar de te olhar,
falou que sou boba e que não deveria fazer isso. Eu sorri,
porque até mesmo quando você me afasta acho engraçado. Então me virei,
olhei para o teto e fiquei em silêncio pensando nos últimos minutos.
Você levantou, procurou pelos meus olhos na escuridão, deu um beijo na
minha testa e perguntou se algum dia eu pensei em nós como um casal de
verdade. No início achei estranho e até pensei que você deveria estar
tentando compensar a falta de educação que têm. Que pergunta absurda era
essa? Óbvio que eu pensava em nós. Sorri e fiz um "sim" com a cabeça
contido, tímido. Acho que ficamos nos olhando por alguns minutos e você
voltou a deitar, com as mãos nos olhos perguntou qual a chance de nós
sermos algo além disso. Nesse momento eu já não queria mais ficar
deitada olhando para o teto, aquele assunto estava começando a tocar em
uma ferida aberta e eu não tinha para onde correr. Minha cabeça já tinha
todas as respostas pois já tinha imaginado nós dois juntos há muito
tempo, mas agora não fazia mais sentido. De costas para você, respondi
que tudo é uma questão de interesse, e isso nós tínhamos de sobra, mas
não lhe dei esperanças. Ele perguntou se isso era uma resposta positiva,
e eu disse que não. Olhei nos seus olhos e minhas palavras não pediram
autorização para acabar com aquele momento. Quando percebi havia dito
que a gente não combinava, que meu lado romântico não compensava o lado
frio dele. Por mais que houvesse química, paixão e história eu seria a
primeira a me machucar. Ele nunca estaria disposto a abrir mão do
coração gelado por mim. Minhas palavras pareciam ensaiadas, mas pela
primeira vez não tinha pensado no que falar. Falei sobre como nós não
podíamos nos perder e que avançar seria o primeiro passo para o adeus.
Quando minha respiração já não aguentava tantos argumentos contra nós,
ele levantou, pegou suas coisas e disse que queria muito que fosse
diferente e que talvez eu realmente seja mais intensa, mas não poderia
falar por ele e pelo o que ele sentia. Meu coração parou naquele
momento. Ele sentia alguma coisa! Percebi que antecipei todas as minhas
palavras e antes que ele pudesse ir embora, eu fiz a última pergunta da
noite. "Você acha que a gente poderia dar certo?". Ele voltou, sorriu,
me deu um beijo e disse que agora ele tinha por quem lutar. Naquela
noite eu não entendi onde a gente havia chegado, mas eu sei que mudamos
de lugar. O cara mais frio do universo sentia alguma coisa, e era por
mim. Acho que ele encontrou uma forma de expressar seu amor, e eu
encontrei uma de libertá-lo.
- Jana Escremin
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