segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Nosso escuro

Estava escuro mas eu ainda podia ver a cor dos seus olhos. Eles se destacam mesmo quando falta cor no ambiente. Encarei esses dois brilhantes e você me pediu para parar de te olhar, falou que sou boba e que não deveria fazer isso. Eu sorri, porque até mesmo quando você me afasta acho engraçado. Então me virei, olhei para o teto e fiquei em silêncio pensando nos últimos minutos. Você levantou, procurou pelos meus olhos na escuridão, deu um beijo na minha testa e perguntou se algum dia eu pensei em nós como um casal de verdade. No início achei estranho e até pensei que você deveria estar tentando compensar a falta de educação que têm. Que pergunta absurda era essa? Óbvio que eu pensava em nós. Sorri e fiz um "sim" com a cabeça contido, tímido. Acho que ficamos nos olhando por alguns minutos e você voltou a deitar, com as mãos nos olhos perguntou qual a chance de nós sermos algo além disso. Nesse momento eu já não queria mais ficar deitada olhando para o teto, aquele assunto estava começando a tocar em uma ferida aberta e eu não tinha para onde correr. Minha cabeça já tinha todas as respostas pois já tinha imaginado nós dois juntos há muito tempo, mas agora não fazia mais sentido. De costas para você, respondi que tudo é uma questão de interesse, e isso nós tínhamos de sobra, mas não lhe dei esperanças. Ele perguntou se isso era uma resposta positiva, e eu disse que não. Olhei nos seus olhos e minhas palavras não pediram autorização para acabar com aquele momento. Quando percebi havia dito que a gente não combinava, que meu lado romântico não compensava o lado frio dele. Por mais que houvesse química, paixão e história eu seria a primeira a me machucar. Ele nunca estaria disposto a abrir mão do coração gelado por mim. Minhas palavras pareciam ensaiadas, mas pela primeira vez não tinha pensado no que falar. Falei sobre como nós não podíamos nos perder e que avançar seria o primeiro passo para o adeus. Quando minha respiração já não aguentava tantos argumentos contra nós, ele levantou, pegou suas coisas e disse que queria muito que fosse diferente e que talvez eu realmente seja mais intensa, mas não poderia falar por ele e pelo o que ele sentia. Meu coração parou naquele momento. Ele sentia alguma coisa! Percebi que antecipei todas as minhas palavras e antes que ele pudesse ir embora, eu fiz a última pergunta da noite. "Você acha que a gente poderia dar certo?". Ele voltou, sorriu, me deu um beijo e disse que agora ele tinha por quem lutar. Naquela noite eu não entendi onde a gente havia chegado, mas eu sei que mudamos de lugar. O cara mais frio do universo sentia alguma coisa, e era por mim. Acho que ele encontrou uma forma de expressar seu amor, e eu encontrei uma de libertá-lo.

- Jana Escremin

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