Teve
uma época em que meu coração pertencia a alguém. Eu tinha posse sobre o
sentimento de quem eu queria, e não era doentio. Nunca foi. Essa coisa
de ser correspondido é tranquilizante. Olhamos no outro uma nova chance e
todo dia é diferente. Lembro de me encantar com visitas no trabalho,
abraços inusitados e uma puta coragem para fugir para qualquer lugar.
Nessa época eu tinha um coração inteirinho,
forte e cheio de amor para dar. Medo? Nunca ouvi falar. Ali era seguro,
gostoso e aconchegante. Amar era fácil. Claro que ser correspondido tem
as suas desvantagens. Não podemos reclamar de nada quando tudo está
lindo. Não enxergamos defeito em ninguém e a rotina não se transforma em
tédio. Fui surpreendida com presentes e textos gigantes sobre o nosso
amor. Tivemos aquelas enrolações para sair do carro pelo simples fato de
não conseguir desgrudar. Quem corresponde acaba criando brincadeiras
particulares e é mágico quando os olhos conversam pela primeira vez.
Mesmo acostumada com a presença, eu sabia que quando chegasse o final do
dia, eu poderia fazer o que quiser com quem amo. As brigas? Divertidas
até para a pessoa mais séria. Não vou nem contar sobre os elogios. É
amor pra cá, linda pra lá. Cada um inventa aquilo que sente. Parece
meloso, hoje eu sei. Mas amor é melação, não é? Se não for que graça
tem? Se não demonstrar nada por quem se ama, então prefiro que nem se
apaixone. Hoje que cresci sei que muita coisa mudou. Meu jeito, meu
coração, minha cabeça. Talvez os namoros que acontecem depois dos 20 não
sejam tão melados quanto os do colegial e eu devo me acostumar. Quando
penso em tudo isso bate aquela vontade de me apaixonar de novo só para
ver como é. Criar comparações e saber como é depois dos 20. A diferença
seria gritante, eu sei. Mas como toda moça romântica, eu ainda teria uma
pitada forte daquilo que gosto tanto. Não adianta tentar mudar o que já
veio torto. Sou torta de amor e não me importo. Suspeito que meu
coração não pertença a mim, e doá-lo seja a prova de amor mais difícil
que eu tenha feito até agora.
- Jana Escremin
Nenhum comentário:
Postar um comentário