Um dia desses disseram que o meu erro é não
estar apaixonada e que o meu coração só pertencia a quem eu tinha
certeza que não o queria, porque no fundo eu morro de medo de alguém
corresponder. Esse papo de amor eu só falo quando quero escrever.
As pessoas se perguntam há quanto tempo vivo na solidão, e eu dou
risada. Nunca pensei em uma vida solitária, pensei em uma vida livre.
Minhas respostas são calmas, passageiras e nunca objetivas. Eu não sei
responder o porquê ninguém ocupou lugar nesse peito que arde de amor.
Não sei explicar porquê comigo é tudo tão quieto, e minhas novelas são
dramas feitos em um quarto escuro onde só eu atuo. Foi em um dia desses
com direito a carinhos, descansos, risadas, gestos e palavras que o
assunto surgiu das cinzas. Nunca sei o que dizer, só posso responder que
fiquei assim. Se esse muro erguido com muito empenho nos últimos quatro
anos fosse fácil de explicar, eu já o teria feito. No meio das risadas
daquela noite, um abraço duvidoso chegou e falou que eu não precisava me
preocupar, que mesmo que tivessem feito um estrago, havia disposição
para consertá-lo. Todas as previsões congelaram minha espinha. Dei as
costas para aquelas palavras e só murmurei duas palavras, para ter
certeza do que estava dizendo. Meu corpo gelou cada centímetro. Quando
não estou afim de me apaixonar, alguém aparece querendo consertar tudo?
Parece injusto. O meu erro estava sendo lapidado, e eu tenho medo do que
pode vir depois dessa disposição. O tempo passou e sei que tudo muda,
assim como os meus sentimentos. Mas é que faz tanto tempo que não falo
com alguém de como funciona o meu coração, que tenho medo de parecer uma
medrosa, pois sei que sou. Uma hora as coisas acontecem, mas tocar
nesse assunto tornou a noite silenciosa. No fundo eu sempre soube de
todas as verdades, mas o meu erro sempre foi não estar a disposição para
amores passageiros. Porém me esqueço que a vida é passageira, e naquela
noite eu tive certeza disso.
- Jana Escremin
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